Monografia apresentada como requisito do Curso de Filosofia, do Instituto de Filosofia e Teologia Mater Ecclesiae - IFITEME.
Orientadora: Prof. Hilda L. Bilek
PONTA GROSSA
2004
Dedico este trabalho a todas as pessoas que acreditam que através da educação se projeta e constrói o futuro da humanidade; a todos que acreditam que a educação é meio de integração e promoção social; os que crêem que a possibilidade da existência humana na Terra depende da importância que se dá e prepara a educação das futuras gerações e finalizando dedico a todos Cavanis, sejam esses leigos ou religiosos que buscam a promoção dos jovens e crianças através de uma dedicação total, buscando e utilizando-se de todos os meios possíveis para alcançar o objetivo de um homem mais humano, justo, solidário e feliz.
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AGRADECIMENTOS
Na certeza de que minhas palavras serão poucas, pobres e pequenas, para expressar, tamanha e inesquecível gratidão a todos que de uma maneira direta ou indireta me ajudaram na construção deste trabalho. Sinto que não deveria citar nomes mesmo que alguns de maneira particular tenham se tornado mais presentes nesse período fatigoso de pesquisas. Para não correr o risco de me esquecer ao longo dos anos que seguirão farei alusão a alguns que através dos tempos manterão vivas em minhas lembranças a recordação de outros. Primeiramente agradeço à Deus que me conduz, agradeço as dificuldades e limitações que enfrentei e que me ajudaram a reconhecer sua presença e amor de Pai. Também não poderia esquecer de expressar minha eterna gratidão a Congregação das Escolas de Caridade, que custeou meus estudos e ao longo desses 10 anos vem sendo o instrumento e voz do Criador em minha vida. Agradeço com afeto às Irmãs Cavanis residentes em Ponta Grossa, que familiarmente me acolheram e a Irmã Tereza que muito me ajudou nas traduções do italiano. A comunidade religiosa que convivi: Pe. Vanderlei Pavan, Ir. Renato Rothen e Jean A. Bezerra, que pacientemente acompanharam-me ao longo desse ano marcante em minha vida. Aos funcionários e alunos da Casa do Menor Irmãos Cavanis que representaram a motivação maior para o desenvolvimento dessa pesquisa. E finalmente aos professores do Instituto de Filosofia e Teologia Mater Ecclesiae – IFITEME - que me prepararam para esse momento decisivo e conclusivo em mais uma etapa de minha vida, dentre esse agradeço minha orientadora de métodos, professora Lea Tereza Abibe e minha orientadora de pesquisas, companheira e amiga ao longo desses cinco anos a professora Hilda L. Bilek.
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RESUMO
A pedagogia dos Cavanis entendida como meio de formação integral, atual e humana do homem. Para entender e conhecer sua origem, busca fazer um resgate histórico na vida de personagens que para os Irmãos Cavanis tiveram relevante importância na estruturação de sua nova prática educativa. Esse resgate reflete sobre a vida de São Felipe Néri, que em pleno período renascentista forma um grupo de religiosos que exercitam seu carisma através de catequeses, pregações e retiros para os cristãos em vista de vencerem ao paganismo. Surge assim a ordem do horto ou os Oratorianos. Também apresenta a vida de São Camilo de Lelis que contemporâneo a Felipe fez uma revolução no conceito de atendimento hospitalar, seu forte caráter e espírito de liderança fizeram nascer na sociedade a Congregação dos Camilianos, religiosos dedicados a tratar os doentes com dignidade e respeito acreditando neles se fazer presente o próprio Cristo. Outro personagem marcante na vida dos Cavanis foi o jovem São Luiz Gonzaga, que tendo nascido em uma família nobre abandona as regalias de seu mundo para viver a simplicidade dos que possuem a Deus e por ser um santo jovem tornou-se modelo e padroeiro da juventude. Os Irmãos Cavanis recordavam também de São Francisco de Sales, com ele aprenderam a confiar na providência divina. A lembrança deste também aparece quando eles em 1808 iniciaram a tipografia, pois o Santo em sua época evangelizava através de periódicos de sua autoria. A vida e o jeito de São José de Calasanz é tão presente na vida e na obra dos dois manos tanto que se corre o risco de confundi-las, sendo que os irmãos o elegeram como padroeiro de sua obra educativa. Já, São Vicente de Paulo é tomado como modelo a ser seguido, a vida do pai da caridade marcou tanto a vida dos dois a ponto de denominarem sua obra como Congregação das Escolas de Caridade. De certa forma, os Irmãos Cavanis são como um apanhado de cada um desses personagens históricos a ponto de considerar-se um novo estilo de vida religiosa distinta das anteriores. Sua pedagogia aconteceu de maneira natural e manteve-se ao longo dos séculos como atual e renovadora. Assim a pesquisa se limitará em apresentar restritamente suas práticas pedagógicas em meio aos jovens sem esquecer de contrapô-las a pensamentos e reflexões contemporâneas. Tal reflexão fará menção a conceitos psicológicos, sociais, morais e afetivos, indispensáveis na Pedagogia dos Cavanis. Analisa-se ainda o conceito de educação para o século XXI, segundo o Relatório Delors para a UNESCO, e confirma-se que a pedagogia iniciada pelos Cavanis a mais de 200 anos continua atual e sua aplicabilidade é válida para os dias de hoje.
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RESUMO
La pedagogía de los Cavanis entendida como medio de formación integral, actual y humana del hombre. Para entender y conocer su origen, busca hacer un rescate histórico en la vida de personajes que para los hermanos Cavanis tuvieran relevante importancia en la estructuración de su nueva practica educativa. Este rescate reflexiona sobre la vida de San Felipe Neri que en pleno periodo renacentista forma un grupo de religiosos que ejercitan su carisma a través de: catequesis prelaciones y retiros para los cristianos, en vista de vencer el paganismo. Surge así la Orden de huerto o los Oratorianos. Tambien presenta la vida de San Camilo de Lelis que contemporáneo a Felipe hace una revolución en el concepto de atención hospitalar. Su fuerte carácter y espíritu de lideranza hicieran nacer en la sociedad la Congregación de los Camilianos, religiosos dedicados a tratar los enfermos con dignidad y respeto acreditando en ellos la presencia del propio Cristo. Otro personaje marchante en la vida de los Cavanis fue el joven San Luis Gonzaga, que habiendo nacido en una familia noble abandona las regalías de su mundo para vivir la simplicidad de los que poseen a Dios por ser un santo joven tornose modelo y patrono de la juventud. Los Cavanis recordaban también la vida de San Francisco de Sales, de esto aprendieran a confiar en la Divina providencia. El recuerdo del santo también aparece cuando ellos en 1808 iniciaron la tipografía, pues el Santo en su época evangelizaba a través de periódicos de su autoría. La vida y el modo de San José de Calasanz está presente en la vida de los dos hermanos, tanto que se corre el siego de confundidlas, siendo que los hermanos la eligieron como patrono de su obra educativa. San Vicente de Paul es tomado como modelo a ser seguido, la vida del padre de la caridad marco tanto la vida de los dos hermanos a punto de denominar su obra como Congregación de las Escuelas de Caridad. De cierta forma, los hermanos Cavanis san como un compendio de cada uno de estos personajes históricos a punto de considerarse un nuevo estilo de vida religiosa distinta de las anteriores. Su pedagogía aconteció de manera natural y mantuvo se a lo largo de los siglos como actual y renovada. Así la investigacion se limitará en presentar estrictamente sus prácticas pedagógicas en medio de los jóvenes sin olvidar de contraponer pensamientos y reflexiones contemporáneas. Tal reflexión tendrá luces a conceptos psicológicos, sociales, morales y afectivos, indispensables en la pedagogía de los Cavanis. Analizase todavía el concepto de educación para el siglo XXI, según el velatorio Delors para a UNESCO, y confirmase que la pedagogía iniciada por los Cavanis a más de doscientos años continua actual y su aplicabilidad es válida para los días actuales
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RIASSUNTO
La pedagogia dei Cavanis intesa come mezzo di formazione integrale, attuale e umana dell’uomo. Per intendere e conoscere la sua origine si cerca di fare una rivalutazione storica della vita dei personaggi che ebbero un rilievo importante nella strutturazione della nuova pratica educativa dei fratelli Cavanis. Questa rivalutazione ci riporta alla vita di San Filippo Neri che in pieno periodo rinascentista forma un gruppo di religiosi che si esercitano nel loro carisma attraverso il catechismo, prediche e ritiri per i cristiani per sconfiggere il paganesimo. Sorge cosí L’ordine dell’Oratorio o degli Oratoriani. Anche appresenta la vita di San Camillo de Lellis, contemporaneo di Filippo che fece uma rivoluzione negli ospedali, quanto al modo di ricevere e trattare gli ammalati. Il suo forte carattere e spirito di lideranza fecero si che nascesse la Congregazione dei Camilliani, religiosi dedicati a trattare gli ammalati con dignitá e rispetto, credendo che in loro si fa presente il proprio Cristo. Un altro personaggio marcante nella vita dei Cavanis fu il giovane San luigi Gonzaga che, nato in una famiglia nobile, abbandona il benessere del mondo per vivere nella semplicitá di quelli che possiedono Dio e, per essere un Santo giovane, divenne modello e protettore della gioventú. I Fratelli Cavanis furono influenziati anche da San Francesco di Sales; da lui impararono a confidare nella Providenza Divina. Il ricordo di San Francesco di Sales appare anche quando i Cavanis, nel 1808, iniziarono la tipografia pubblicando riviste e scritti del Santo. La vita, anzi, lo stile di vita di San Giuseppe Calasanzio era cosi presente nella vita e nelle opere dei due Fratelli, che quasi si corre il rischio di confonderla, tanto che lo elessero patrono della loro opera educativa. Giá San Vincenzo di Paoli, scelto come modello da essere imitato, e la sua vita fondata e guidata influí tanto nella vita dei due fratelli che derono il nome alla loro opera di Congregazione delle Scuole di Caritá. Di certa forma, i Fratelli Cavanis sono un poco di ciascuno di tutti questi personaggi storici a tal punto di concepire un nuovo stile di vita religiosa differente dalle anteriori. La loro pedagogia si formó e sviluppó naturalmente e si mantenne attuale e innovatrice durante i secoli. Cosi la ricerca si limiterá a presentare strettamente la sua pratica pedagogia in mezzo ai giovani senza dimenticare di contraporla al pensiero e ideologia contemporanei. La dará alcuni cenni ai concelti psicologici, sociali, morali e afettivi, indispensabili e inerenti alla Padagogia Cavanis. So oltre a questo sará analizzato il concetto di educazione nel secolo XXI, secondo il relatorio Delors per L’UNESCO, e si afferma che la pedagogia iniziata dai Cavanis da piú di 200 anni fa continua attuale e la sua applicazione é valida per i nostri giorni.
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SUMÁRIO
RESUMO
....................................................................................................................iv
RESUMO
.....................................................................................................................v
RIASSUNTO
..............................................................................................................vi
INTRODUÇÃO
............................................................................................................1
CAPÍTULO I
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1 SÃO FELIPE NERI
..............................................................4PRINCÍPIOS ILUMINADORES......................................................................................4 ................................................................................................5
2 SÃO CAMILO DE LELLIS
.....................................................................................9
3 SÃO LUIS GONZAGA
.........................................................................................18
4 SÃO FRANCISCO DE SALES
............................................................................22
5 SÃO JOSÉ DE CALAZANS
................................................................................26
6 SÃO VICENTE DE PAULO
.................................................................................31
7 IRMÃOS CAVANIS
7.1 TEMPERAMENTOS DIFERENTES
..................................................................41 .............................................................................................34
CAPÍTULO II
APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
1 O EDUCADOR CAVANIS
.................................................................43PILARES PEDAGÓGICOS........................................................................43 ...................................................................................45
2 EDUCAÇÃO GRATUITA
.....................................................................................45
3 AMOR PATERNO AOS JOVENS
.......................................................................48
4 O MÉTODO
4.1 VIGILÂNCIA CONTÍNUA
4.2 CONGREGAÇÃO MARIANA
4.3 CATEQUESE
4.4 HORTO (RECREIO)
4.5 ORATÓRIO
4.5.1 Exercícios Espirituais
......................................................................................53 .......................................................................................................53 ..........................................................................................51 ....................................................................................................51 ............................................................................50 ..................................................................................49 .........................................................................................................49
5 INSTITUTO FEMININO
........................................................................................54
6 PROFISSIONALIZAÇÃO
....................................................................................54
7 A PERFEITA INSTRUÇÃO DOS JOVENS
.........................................................54
8 DISCIPLINA
.........................................................................................................55
CAPÍTULO III
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1 APRENDER A CONHECER E A PENSAR
..58A PEDAGOGIA CAVANIS E A EDUCAÇÃO CONTÊMPORANEA....................................................................................58 .........................................................59
2 APRENDER A FAZER
........................................................................................61
3 APRENDER A CONVIVER
..................................................................................63
4 APRENDER A SER
.............................................................................................64
CONSIDERAÇÕES FINAIS
......................................................................................66
REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS
...........................................................................68
ANEXOS
...................................................................................................................69 vii
INTRODUÇÃO
"A educação é um trabalho que exige a ocupação da pessoa o tempo todo (…), os operários, portanto devem ser bem treinados para este ministério; livres de outras ocupações para dedicar-se a ele inteiramente".
(IRMÃOS CAVANIS 28/05/1814)
Ao iniciar um trabalho de pesquisa acadêmica surgem diversas questões, o grande desejo de responder essas dúvidas que povoam a mente humana e que ao longo da história trouxeram à humanidade o que chama-se de futuro ou pós-modernidade em busca de um desejo natural de realizar-se sonhos do passado que de certa forma conduziram o homem ao desenvolvimento. Nem todo saber é conhecido e nem tudo do que é conhecido é saber. Baseado nessa idéia encontram-se velados na história da humanidade e de maneira particular na história da educação, veneziana, dois personagens de relevante importância. Herdeiros de um título de nobreza dois irmãos Antonio e Marcos, os condes Cavanis, constituíram um marco em sua época. Num contexto de diversos conflitos político de governos opressores e oprimidos e dentro do avassalador império napoleônico eles permaneceram fiéis ao seu sonho de possibilitar vida digna de cultura, educação e religião aos que delas não podiam desfrutar de forma plena, pelo simples fato de terem nascidos menos afortunados.
Essa pesquisa acadêmica quer ao mesmo tempo em que pretende refletir nos ideais Cavanis ela o faz levando em conta a inserção do ser humano no contexto atual.
Para tanto será preciso questionar para compreender o que vem a ser pedagogia.
Quando um método de trabalho educativo pode ser considerado como pedagógico?
Qual é a pedagogia dos Cavanis?
Esse método tem aplicabilidade hoje? Quem pode aplicar a Pedagogia Cavanis? E onde?
A partir de uma peculiar intuição pedagógica os Irmãos Cavanis condensaram em seu estilo próprio de interagir dentre os jovens princípios iluminadores de personagens que deixaram marcas em sua época como: Felipe Néri, fundador da ordem do horto; São Camilo de Lelis, que fundou uma congregação para ajudar e confortar os doentes; São Luis Gonzaga, que os inspirou na pureza da mente e do coração; São Francisco de Sales, exemplo de confiança na providência e exímio escritor de temas espirituais; São José de Calasanz que foi um sacerdote espanhol que oferecia educação às crianças pobres da periferia de Roma, o qual os Irmãos Cavanis escolheram como padroeiro de sua obra educativa e São Vicente de Paulo, fundador dos lazaristas e das Irmãs da Caridade, que escolheram como modelo a ser seguido, assim os irmãos Cavanis apresentaram como paradigma de seu projeto educativo o próprio Cristo.
Assim este trabalho de pesquisa pretende apresentar os Irmãos Cavanis como dois verdadeiros visionários, como dois homens que estiveram à frente de seu tempo, sobretudo no campo da educação das crianças e dos jovens.
Como ensinar, como formar sem estar aberto ao contorno geográfico e social dos educandos? (FREIRE, 1996, p.137).
Eles diziam que "Não adianta esperar por uma mudança na sociedade sem cuidar como convém das crianças e dos jovens; é preciso usar os meios aptos para conseguir o fim". ad. tempora
A metodologia utilizada nesse trabalho foi através de reflexão feita sobre as cartas escritas pelos
IRMÃOS CAVANIS sendo selecionadas as que mais dizem respeito ao espírito e a finalidade de sua obra educativa como a pedagogia desenvolvida. Também foram analisado autores contemporâneos que refletem sobre o tema pedagogia e educação. O trabalho inicia sua pesquisa sobre os princípios iluminadores que inspiraram o desenvolvimento da pedagogia dos Cavanis. Para tanto essa pesquisa direcionou-se sobre a vida de SÃO FELIPE NERI, SÃO CAMILO DE LELIS,SÃO LUIZ GONZAGA, SÃO FRANCISCO DE SALES, SÃO JOSÉ DE CALAZANS e SÃO VICENTE DE PAULO. Num segundo momento a pesquisa direciona seu foco na possibilidade da FORMAÇÃO INTEGRAL DO HOMEM através da teoria educacional desenvolvida e praticada pelos Cavanis ao 2
longo de um período histórico de 200 anos. A pesquisa é concluída no século XXI, refletindo a aplicabilidade e validade da Pedagogia Cavanis na pós-modernidade.
A pedagogia Cavanis surge com o desejo de suprimir uma carência de afeto e educação que vive as crianças e jovens do século XVII na cidade de Veneza. Alvorece como luz educativa dentro do período iluminista e tem em seu interior contribuições de saberes e valores históricos de sua época como a revolução francesa em 1789 e o alvorecer do período moderno. E que ainda hoje faz-se convidativo para uma intensa meditação. A centralidade dessa Pedagogia Cavanis encontra-se no próprio homem
Percebendo a atual escassez de material em português sobre a pedagogia Cavanis bem como a sua origem, esse trabalho quer ser um instrumento prático e acessível a todos, que possibilite conhecimento histórico e pedagógico para uma melhor aplicabilidade dela hoje.
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1º CAPÍTULO
"A perfeição não consiste em fazer grandes coisas que nos fazem parecer grandes diante dos olhos dos homens, mas em ser grande diante dos olhos de Deus, fazendo tudo conforme sua Vontade".
(Pe. ANTONIO CAVANIS 11/1843))
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Entende-se por princípios iluminadores as fontes que inspiraram e motivaram os irmãos Antonio Ângelo Maria Cavanis e Marcos Antônio Maria Cavanis a desenvolverem uma obra educativa através da escola que a
Esses focos luminosos condensados na pedagogia Cavanis, constituíram o que eles denominaram de formação integral do homem.
Para tanto se torna necessário uma análise objetiva desses princípios que inspiraram e motivaram os Irmãos Cavanis. Para desenvolver um paralelo entre: Igreja, Estado, educação e sociedade e refletir sobre a vida de personagens que para os Irmãos Cavanis tiveram com seu pensamento relevante importância na história da educação de sua época.
Essa análise histórica passará na ótica filosófica pelos períodos renascentista abrangendo o século XV e XVI, contextualizando os personagens: Felipe Neri (1515 -1595), Camilo de Lelis (1550 – 1614), Luis Gonzaga (1560 – 1591) e na segunda metade do século XVI adentrando o século XVII encontra-se Francisco de Sales (1567 – 1622), José de Calazans (1556 – 1643), este escolhido pelos Irmãos Cavanis como padroeiro da obra Cavanis e Vicente de Paulo (1580 – 1660), popularmente conhecido como pai da caridade e que os Irmãos Cavanis
apresentavam aos congregados como modelo a ser seguido. (SANTA CRUZ, 1993, p.50-51)
Esse primeiro capítulo será finalizado com uma análise sobre os Irmãos Cavanis, observando a centralidade de sua pedagogia e contextualizando-a na filosofia e na história do período iluminista destacando o império napoleônico com a revolução francesa e o pensamento histórico contemporâneo, iniciado por Emanuel Kant.
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São Felipe Neri, missionário e fundador da Congregação do Oratório, Nasceu em 22 de julho de 1515 em Florença, Itália como Phillipe Romolo Neri. Filho do tabelião Francisco Néri; estudou sob influência dos Dominicanos em São Marcos, no Veneto e aos dezoito anos foi mandado para São Germano, a um seu parente sem filhos, que se supunha ter um negócio florescente e do qual se esperava que o ficasse seu herdeiro. (THURSTON,H.J.; ATTWATER,D.,1988, p.237.) Ele abandonou os negócios em 1533, foi para Roma. Hospedou-se no salão da casa de Galeotto Caccia, oficial da alfândega. Em troca da hospitalidade, dava aulas a dois filhos do oficial. Ibid., p.238
Estudou dois anos com profundidade a partir de 1533 teologia e filosofia. A região onde residia se recuperava do saque de 1527. As escolhas e decisões da Igreja eram controladas pelos Médici e os cardeais com raras exceções eram príncipes de Estado, mais do que propriamente da Igreja. id.
O entusiasmo pelos autores clássicos, estimulados pela Renascença substituiu, aos poucos as idéias cristãs por idéias pagãs, fazendo baixar o padrão moral e enfraquecendo a fé.
Pairava nessa época do período renascentista, sob a influência do pragmatismo, no clero romano uma indiferença e um abandono, deixando suas igrejas cair em ruínas e não havia acompanhamento de seu rebanho, fato que levava o povo ao semi-ateísmo. Reevangelizar Roma foi a obra da vida de Felipe, e ele executou com êxito, merecendo receber posteriormente o título de apóstolo de Roma. Em pleno clima de reforma e contra reforma, Felipe expressou a sua opinião a respeitos "É possível restaurar as instituições com a santidade, e não restaurar a santidade com as instituições". (SGARBOSSA, M.; GIOVANNINI, L., 1983, p.165)
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Seu trabalho apostólico consistia em circular pelas ruas, esquinas, mercados e praças de Sant’Angelo. Sua personalidade atraente acompanhava seu senso de humor que facilmente cativava um ouvinte. Seus conhecimentos e sua espiritualidade ajudavam-no a dizer uma palavra no momento adequado com quem conversava, quando não falava do amor de Deus ou de sua vida espiritual. Dessa maneira, convencia muitos a abandonar seus maus costumes e a modificar suas vidas. 6
Estudante em Roma abandona os estudos vendendo os livros para dedicar-se totalmente a atividades beneficentes. Após três anos passou a organizar uma ordem de Irmãos Leigos. No ano de 1548, com o auxílio de seu confessor, o padre Persiano Rosa, que vivia em San Girolano della Carita, Felipe devotado ao seu apostolado fundou uma comunidade, a "Confraria da Mais Santa Trindade" para exercícios espirituais na Igreja de San Salvatore in Campo para orarem juntos, cuidarem dos doentes e peregrinos que vinham para Roma, também recolheram consigo meninos turbulentos dos subúrbios romanos e os educavam divertindo-os. A quem se queixava do barulho respondia: "Contanto que não pratiquem o mal, ficaria satisfeito até se me quebrassem paus na cabeça". (SGARBOSSA, M ; GIOVANNINI, L., 1983, p.165). Ficou muito conhecido pela sua bondade e simpatia. Santa Trinitá dei Pellegrini. Ao completar 34 anos, Felipe Néri já havia realizado obras religiosas de atendimento aos pobres, peregrinos e crianças, grupos de orações que permanecem até a atualidade. Embora em sua humildade o fizesse evitar o pensamento de tornar-se padre, submetido ao desejo de seu confessor no dia vinte e três de maio de 1551, foi ordenado, com trinta e seis anos. Já desde antes do despontar da manhã até o meio dia e muitas vezes de novo a tarde ele atendia uma multidão de penitentes de todas as idades e condições. De acordo com THURSTON,H.J.; ATTWATER,D loc. cit., ele tinha a capacidade de ler o pensamento dos que o recorriam, realizando assim conversões. Visando ao bem dos penitentes, ele costumava realizar conferências informais e discussões, seguidas depois de visita as comunidades. 7
Felipe Néri auxiliado por outros sacerdotes dirigia conferências na Igreja de San Girolano e para acomodar os que o assistiam, construiu-se uma grande sala sobre a nave da Igreja. Esse grupo recebeu o nome de oratorianos, porque eles tocavam um sininho para convocar os fiéis às orações em seu oratório. Mas os verdadeiros fundamentos da Congregação desse nome só foram lançados anos depois, quando Felipe apresentou cinco de seus jovens discípulos para a ordenação sacerdotal, entre os quais se achava César Barônio, e os mandou servir a Igreja de San Girolano. 8
SÃO CAMILO DE LELLIS
Foi em seu quarto, que ele confirmou seu apostolado quando a idade avançada e as enfermidades crescentes o impediram de circular livremente. Ricos e pobres visitavam seus aposentos e para todos dava um conselho adequado a suas necessidades particulares.
Dois anos antes de morrer ele conseguiu demitir-se do cargo de superior em favor do seu discípulo Barônio. Obteve também permissão de celebrar a missa diariamente em um pequeno oratório unido a seu quarto.
Na festa de Corpus Christi , dia 25 de maio de 1595, Felipe apresentou-se radiante de felicidade que beirava a exultação, e seu médico lhe disse que não o via assim a dez anos . Durante todo o dia ouviu confissões e recebeu visitas, como de costume e ao meio dia disse: "Ao cabo de tudo, devemos morrer" segundo o relato de seus congregados, citado por (THURSTON,H.J.; ATTWATER,D, 1988, p.241.)
Por volta da meia noite sofreu um ataque de hemorragia que os padres foram chamados. Era evidente que estava para morrer assim Barônio que lia as orações da encomendação, pedia a ele que dissesse uma palavra de despedida, ou pelo menos abençoasse seus filhos. Embora Felipe não conseguisse mais falar, levantou a mão e expirou enquanto abençoava. Ele estava com oitenta anos. Seu corpo foi sepultado na Igreja nova de Vallicella onde os oratorianos servem até os dias de hoje. Ibid., p.241
Foi beatificado em 1615 pelo Papa Paulo V, e canonizado em 1622 pelo Papa Gregório XV . Seu símbolo na liturgia da Igreja é um lírio e um anjo com um livro.
Sua imagem está entalhada em um santuário na Casa Matriz da Igreja de Santa Maria, em Vallicella . A mais famosa pintura dele foi feita por Guido Reni, que serviu de base para as subseqüentes apresentações de suas fotos-pintura.
Sua festa é celebrada no dia 26 de maio.
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No ano santo de 1550, os peregrinos de diversas partes do mundo afluíam a Roma e o concílio de Trento recomeçava as suas sessões sob o Pontificado de Júlio III. Em Bucchianico celebrava-se a festa do padroeiro do lugar, Santo Urbano, em 25 de maio. Camila sempre mui devota foi logo cedo à Missa chamada
Messa picola, porque não podia, como estava, assistir à missa solene da grande festa. Enquanto adorava Jesus Hóstia, no instante da consagração, como Isabel, a Mãe do Batista, 9
sentiu que o filho exultava de alegria no ventre materno. Voltou depressa para casa. Percebeu que a hora chegava. Uma amiga aconselhou-a a recorrer a São Francisco e descer até a estrebaria, onde também nascera Jesus em Belém, e o Santo Patriarca em Assis. Camila naquela angústia assim o fez, e gemendo de dor estendeu-se sobre a palha, o feno dos animais, e ali nasceu a criança. A notícia correu célere. O milagre andava de boca em boca. A velha Dona Camila era mãe aos sessenta anos! Afluiu muita gente à casa
Camilo aproveitando da liberdade e em más companhias aprendeu a jogar. A família que o adotou o colocou em uma escola onde tirou proveito, pois não obstante as vadiações e peraltices era inteligentíssimo. Tinha boa memória, recitava muito bem e gozava de grande prestígio entre os colegas de classe. Aos dezessete anos resolveu se alistar entre os venezianos que em 1567 andavam assalariando na guerra contra os turcos. Camilo lutou ao lado do pai junto dos habitantes de Veneza contra os turcos, mas logo após a morte do pai que ocorreu nas vizinhanças do Santuário de Loreto, no castelo de São Lupo, Camilo contraiu uma doença incomoda e repulsiva, que posteriormente denominou de a primeira misericórdia, era uma chaga no peito do pé direito, que não a tratou bem e após ter infeccionado tornou-se profunda e incurável. Ibid, p.17
Um dia sentado à beira do caminho, Camilo viu passar dois padres da Ordem Franciscana. A modéstia dos religiosos o impressionou. Chegou mesmo a fazer o voto de entrar para um convento franciscano. Dirigiu-se para Áquila e foi bater à porta do convento de São Bernadino. Expôs ao guardião o padre Frei Paulo Loretano, seu tio materno, todas as suas desgraças e o desejo de se converter e fazer penitência. O tio franciscano o ouviu comovido, mas não o quis receber. Camilo descansou ali alguns dias, tratou-se um pouco e resolveu partir para Roma, chagando lá procurou um hospital para curar-se.
Em 1569, foi internado no hospital da San Giacomo (São Tiago) em Roma para doentes incuráveis, ficando lá como paciente serviçal. Passado nove meses, foi demitido, entre outros motivos por causa de suas reclamações, pois o rapaz não
tinha juízo. Era cabeça quente, brigava com os enfermos por qualquer ninharia, discutia com os enfermeiros, e perdia o tempo no jogo. Assim a diretoria do hospital o dispensou do serviço como incorrigível e inepto para o ofício de enfermeiro. id.
Voltou para o serviço ativo na guerra contra os turcos. Camilo referia-se como um grande pecador, seu maior vício era o da jogatina que constantemente o levava à penúria e a vergonha. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p.172)
No verão de 1571, Camilo foi transferido para a guarnição da Ilha de Corfú. Local que se travaria a histórica batalha de Lepanto. Ocorrera terrível epidemia a qual Camilo contraiu e tendo ficado gravemente doente recebeu a unção dos enfermos, melhorou sensivelmente. No ano seguinte, em 1572, alistou-se de novo no exército e partiu para a luta. Quase perdeu a vida no combate dos turcos em Castelnuovo. Em março de 1573, restabeleceu a paz, Camilo se põe a serviço da Espanha. Após naufrágio junto à Ilha de Capri, chegou a Nápoles. Em outubro de 1574, devido ao vício da jogatina, apostou sua camisa e perdendo foi obrigado à humilhação de tirá-la em praça pública. Assim chegou ao extremo da miséria. (BRANDÃO 1978, p.19-20)
No dia 15 de agosto de 1582, festa da Assunção da Virgem Maria, Camilo velava os doentes e enquanto isso meditava que era triste ver tantos doentes abandonados, sem assistência material e espiritual, entregue às vezes em mãos de mercenários. Como remediar tantos males? Sente assim em seu coração a pulsão de instituir uma companhia de homens piedosos que aceitassem generosamente a missão de socorrer aos enfermos, sem esperarem recompensa ou paga, e o fizessem com a ternura de Mãe. Essa companhia teria como distintivo uma cruz vermelha ou outro distintivo qualquer. Essa foi a primeira inspiração que sentiu em seu coração.
Camilo convicto dessa inspiração dispõe-se a convidar alguns amigos, entre eles estava o Pe. Francisco Profeta da Sicília, capelão de São Giacomo, homem de grande ciência e virtude, Bernardino Norcino di Amatrice, Cruzio Lodi, Ludovico Altobelli e Benigno Sauri, que trabalhavam no hospital. As palavras de Camilo e a sua maneira de apresentar suas motivações entusiasmaram esses companheiros que tomaram o amigo como seu mestre e guia. Assim dentro do hospital prepararam um espaço que continha um altar e um crucifixo para suas orações em comum e em momentos livres lá se encontravam para combinar como levarem adiante essa obra.
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O fundador sentia também o desejo de congregar a esse grupo, sacerdotes seculares, que fossem piedosos para o serviço dos enfermos, principalmente para lhes ministrarem os sacramentos como a Unção dos enfermos e o Viático prontamente quando necessário e, além disso, que realmente tivessem verdadeiro amor e afeto para com os agonizantes. Camilo pensava que assim poderia salvar muitas almas e conceder-lhes atendimento digno, para que se sentissem verdadeiramente amados e que não se encontravam sós. Tarde venisti! Tarde tarde venisti! Um dia o mestre Pe. Cornélio Ciprioto, ao ver a gozação disse aos meninos: "Este homem que é objeto de vossa zombaria, há de fazer grandes coisas na Igreja de Deus!" Sendo assim cessaram-se as zombarias e começaram a admirar a virtude e a boa vontade do aluno de trinta e dois anos. São Asaph, último bispo exilado da antiga hierarquia inglesa. (THURSTON; ATTWATER, 1989 p.174) São Giacomo, dispensava em favor dos pobres. 12 uma tarde de dezembro de 1583, encontra um senhor ilustre, nobre romano, Fermo Calvi, que apenas o conhecia de vista. Trocando conversas chegaram às dificuldades que Camilo se encontrava para ser ordenado. O senhor generoso e dotado de enorme fortuna, de imediato ofereceu a quantia necessária para tal empréstimo e posteriormente veio a ser um grande benfeitor da obra, terminando seus dias no seio da família camiliana. Santa Maria Porta Padadisi. Maria Donnina dei Miracole. (BRANDÃO, 1978, p.41) São Giacomo. Madonnina. Camilo conforta o amigo com essas palavras: "Esta enfermidade, vem 13
do Senhor, e fomos favorecidos com esta visita de Deus, afim de que aprendamos com a nossa própria doença, e nos tornemos mestres na escola do sofrimento para nos tornarmos mais fervorosos e compassivos em socorrer o próximo enfermo". Ibid., p. 45
Devido a umidade e insalubridade da casa, Camilo e seus companheiros precisavam mudar-se de
Camilo acolhia em sua companhia quantos manifestassem vocação. Entretanto fazia-os passar duras provações e os experimentava rigorosamente p
Madonnina e confiando na providência alugaram uma outra casa que exigia cinqüenta escudos anuais e um semestre adiantado; ajudados por Pompeo Baratelli outro amigo e benfeitor estabeleceram-se na Via Delle Bottegere Oscure, em janeiro de 1585. Este era um ambiente melhor, mais saudável e central. Puseram-se a trabalhar em dois hospitais o de São Giacomo e o do Espírito Santo, Camilo preferiu trabalhar onde exerciaeria os trabalhos mais humildes, trataria dos repugnantes, os mais imundos, os mais grosseiros e difíceis. Sofria dolorosas humilhações. O hospital não era muito organizado, mas ocorriam graves abusos, como o de levarem doentes ainda vivos para o necrotério. (BRANDÃO 1978, p.47) er ignem et águam provas de água e fogo nos hospitais e no trabalho. Nem todos perseveraram e resistiam às provas. id.
Os religiosos camilianos destacaram-se no seu apostolado, pois atendiam também os enfermos no seu domicílio, trabalho esse que trouxe maior prestígio à Companhia dos enfermeiros. O nome camilianos não era aceito por Camilo e sua humildade, assim preferiu denominá-los de Ministros dos Enfermos, no entanto as pessoas mais comumente os denominavam padres da boa morte ou do bem morrer.
A regra religiosa dessa Congregação escrita pelo fundador compreende duas partes: a primeira estabelecia as práticas para a observância dos conselhos evangélicos, a consagração total de suas vidas a Deus expressada através dos votos de pobreza, castidade e obediência e a segunda a assistência aos enfermos.
Logo no início a congregação sofre com a perda de um confrade, Bernardino Norcino, homem de oração e penitência que veio a falecer no dia 16 de agosto de 1585. O seu corpo foi sepultado na
A nova comunidade crescia de maneira expressiva e se via a necessidade de uma habitação maior. Na festa de Santa Madalena Camilo visitou seu santuário e contemplou com amargura os estragos e a pobreza da Igreja em ruínas. Sentiu o
No ano de 1585, morre o Papa Gregório XIII e o conclave elegeu para seu sucessor Sisto V, que foi um reformador enérgico e decidido. Camilo teve receio de pedir a aprovação da nova ordem sem um bom protetor. Tendo encontrado o Cardeal Vicente Lauro, Bispo de Mondovi, e homem de grande influência junto ao Santo Padre e de valor, pediu-lhe a aprovação da ordem sem rodeios, mas com simplicidade foi logo advogando o que queria. O Cardeal simpatizando-se com Camilo e informou-se da idoneidade do instituto, pediu as constituições e sem demora apresentou-se ao Papa Sisto V, com os documentos e advogou a causa da nova Ordem. O cardeal admirou-se da sabedoria da regra, escrita por um homem sem cultura. Tanto elogiou e defendeu que foi nomeado protetor da obra. (BRANDÃO 1978, p.51)
O Breve de 18 de maio de 1586 aprovou a nova Congregação Religiosa, concedendo aos ministros dos enfermos a licença de professarem os votos de pobreza, castidade, obediência e o serviço aos enfermos, mesmo os empestados. O Padre Camilo fora eleito o primeiro superior.
Em 1588, Camilo e mais seis companheiros fundaram uma comunidade em Nápoles. Nesse mesmo ano ocorreu que algumas galeras, tinham a tripulação infectada pela peste e foram proibidas de atracarem no porto. Desse modo, os ministros da saúde, novo nome atribuído a Camilo e seus companheiros em Nápoles, subiram a bordo e lá davam assistência aos doentes. Numa dessas ocasiões, dois dos seus membros morreram por causa da peste, sendo os primeiros mártires da caridade dessa instituição. O fundador demonstrou o mesmo espírito de caridade em Roma, quando uma febre provocada pela peste eliminou um grande número de habitantes em outra época quando essa cidade foi visitada por uma violenta carestia.
Em 22 de setembro de 1591, o Papa Gregório XIV assinou uma bula que elevou a congregação à condição de Ordem Religiosa para o serviço perpétuo aos doentes. No dia 15 do mês seguinte morre o Papa e os dois Pontífices que o sucederam não admitiam a aprovação de novas Ordens. Fato esse da providência
Igreja do Gesú dos padres jesuítas da Companhia de Jesus. Ibid., p.49) 14 desejo de adquiri-la. O velho templo pertencia a um nobre senhor amigo de Camilo que não hesitou em lhe conceder o santuário, restando a Camilo o encargo de quase reconstruí-lo. As autoridades atendendo aos benefícios que os ministros prestavam ao povo deram trezentos escudos para a reforma. E assim essa se tornou a casa mãe da ordem. 15
que proporcionou a Camilo uma alegria imensa. Ele reuniu na capela todos os religiosos e colocando sobre o altar o documento papal entre lágrimas rezou: Dou-vos graças, meu senhor, em nome de todos estes filhos, que formei pelas entranhas de vossa piedade, porque vos dignastes consolar-me inspirando ao Santo Padre o nosso Papa Gregório, a estabilidade desta plantinha, cultivada não por mim, mas pela vossa mão poderosa. (BRANDÃO 1978, p.63) 16
teve grande devoção a Nossa Senhora. Aprendeu a amá-la com a mãe. Em 2 de fevereiro de 1575, na festa da Purificação, ele pobre pecador se converte para sempre. Em 15 de agosto de 1582 em Madonnina dei Miracoli nasce a obra Camiliana. Na oitava da Natividade, os primeiros camilianos vestem o hábito e na festa da Imaculada Conceição, 8 de dezembro de 1591, Camilo e vinte e cinco companheiros pronunciam os votos solenes. Por esses acontecimentos Nossa Senhora foi chamada Rainha dos Ministros dos Enfermos. 17
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SÃO LUIS GONZAGA
São Luís Gonzaga nasceu em Castiglione, Itália, a 9 de março de 1586, filho primogênito de D. Fernando Gonzaga, príncipe do Império, e de D. Marta Tana Santena.
A dinastia dos Gonzaga, uma das mais ilustres de toda a Itália, com domínios de Mântua a Bréscia, e de Ferrara à fronteira da Lombardia, ao longo dos anos acumulara riquezas, altos cargos eclesiásticos e principados em sua aristocrática linhagem. Fernando, Marquês de Castiglione e Príncipe do Sacro Império, conhecera Marta na corte da Espanha, onde ela era dama da Rainha Isabel de França. Esta soberana, auxiliada por seu esposo, o grande Felipe II, estimando a virtude e as qualidades morais de Dona Marta, a escolhera para sua dama de honra. Se o Marquês tinha no sangue o espírito combativo e militar de seus ancestrais, a Marquesa completava o espírito guerreiro do marido com uma profunda piedade. E Luís recebeu a influência dos dois. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p. 212)
Desde muito pequeno, gostava de ouvir, falar e pensar em Deus. Teve assim, quase desde o berço, um dom muito elevado de oração. Unido a essa feliz propensão de seu caráter e à sua piedade precoce, podia-se perceber nele o espírito guerreiro do sangue ancestral. Assim é que o Marquês deu-lhe uma pequena armadura, elmo, espadinha e um pequeno arcabuz de verdade quando tinha apenas quatro anos, que levou ao acampamento de
Casalmaggiiore, onde deveria passar em revista as tropas cerca de três mil soldados que estavam sendo treinados para a guerra do rei espanhol contra Túnis. Um dia Luís, disparando seu arcabuz, chamuscou o rosto. O pai então o proibiu de utilizar pólvora. Mas ele, travesso e valente, noutro dia, na hora do repouso após o almoço, conseguiu escapar à vigilância de seu tutor, aproximar-se de um canhão e acender-lhe o pavio. O acampamento todo foi despertado com o estrondo, e encontraram o pequeno príncipe estirado ao solo, vítima do coice que recebeu da possante arma. Luís gostava de estar junto aos tércios espanhóis tomava parte nas paradas marchando à frente de um pelotão, com uma lança ao ombro imitando seu passo marcial. No contato com os soldados aprendeu o uso das armas e palavras de baixo calão que alguns deles falavam. Voltando para casa seu tutor chamou-lhe a atenção, dizendo-lhe que aquela linguagem não era somente vulgar, mas lamentavelmente blasfeme. Embora o menino de cinco anos não entendesse seu sentido, foi tomado de 18
vergonha e tristeza, chorou amargamente essa involuntária falta, que nunca deixou de lamentar como uma das mais graves de sua vida. E disse que a partir desse episódio teve início sua conversão. loc. cit .
Aos oito anos o pai levou-o com seu irmão Rodolfo à Florença, para viverem na corte do Grão-duque da Toscana Francisco de Médicis, afim de melhorar Rodolfo e Luís o latim e aprender a falar o italiano puro da Toscana, isso se deu em 1577. Obrigados pela etiqueta, deveriam aparecer com freqüência na corte grão-ducal. Ele se via mergulhado no que descreveu como "uma sociedade da fraude, do punhal, do veneno e da mais luxúria". Em decorrência disso despertou dentro de si um zelo intenso pela virtude da castidade. Aumentou então seus atos de devoção à Santíssima Virgem, de tal modo que fez, aos nove anos de idade, voto de castidade perpétua. Ibid
Quando tinha 10 anos, numa ausência do pai, recebeu certo dia em Castiglione o Cardeal-Arcebispo de Milão, São Carlos Borromeu. Esse ficou encantado com sua pureza e santidade, tendo declarado "que jamais encontrara jovem que em tal idade atingisse tão elevada perfeição". Ele mesmo administrou-lhe a Primeira Comunhão, aconselhando-o a praticar a comunhão freqüente e a leitura do Catecismo Romano. Após dois anos em Florença o pai os levou para a corte do duque de
Sua infância transcorreu de castelo em castelo, de corte em corte, de festa em festa, mantendo, contudo, sempre o coração ancorado em Deus. Provou, assim, que era perfeitamente possível cultivar a santidade em meio aos esplendores da nobreza. Com efeito, aos 12 anos já atingira alta contemplação. Para isso lhe fora de muita ajuda um livro de São Pedro Canísio, apóstolo da Alemanha. A meditação contínua tornou-se para ele quase uma segunda natureza e por isso tinha um domínio total de si mesmo. Vivendo em plena época do Renascimento, estudou as
Como primeiro passo para uma futura atividade missionária, ele começou a dar aulas de catecismo aos meninos pobres de
Em 1581, Dom Ferrante foi chamado para acompanhar a imperatriz Maria da Áustria em sua viagem da Boêmia à Espanha. Sua família o acompanhou, e ao chegarem à Espanha, Luis e Rodolfo seu irmão foram designados para pajens de Dom Diego, Príncipe das Astúrias. Embora servisse o príncipe e partilhando de seus estudos, Luis jamais omitiu ou reduziu suas devoções. Impôs-se a si mesmo a tarefa diária de fazer uma hora de meditação, sem distração, o que lhe exigia várias horas de concentração contínua. Na corte de um dos mais poderosos soberanos da Terra, afirma-se no coração de Luís o desejo de apartar-se do mundo e dedicar-se totalmente a Deus. Estava decidido a tornar-se jesuíta. Tendo cumprido já os 16 anos, decidiu falar sobre isso com seu pai. O marquês, que encantado com as qualidades do filho sonhava com um brilhante futuro para ele e respondeu sem rodeios um não e furioso ameaçou de mandar açoitá-lo. id
., p. 212-213 Mantua, que o havia nomeado recentemente como governador de Monserrate, em 1579, quando Luis estava com onze anos e oito meses. op. cit. línguas clássicas, chegando a escrever elegantemente em latim. Foi nessa língua que fez um discurso de saudação ao monarca espanhol Felipe II quando suas armas foram vitoriosas em Portugal. Espírito alerta, perspicaz e sério, triunfou facilmente nos estudos. Ele aliava nobreza, cultura, inteligência e a santidade. Castilione, durante as férias de verão. Em Casale-Monferrato, onde passou o inverno, freqüentava as igrejas dos capuchinhos e barnabitas. Também praticou as austeridades de um monge, jejuando três dias na semana a pão e água, açoitando-se e se levantando à meia-noite para rezar ajoelhado sobre o pavimento de pedra de um quarto em que não permitia que se acendesse fogo, por mais rigoroso que fosse o inverno. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p. 213) .
Para convencê-lo disso, enviou-o de volta à Itália, com missão junto a vários príncipes. Esperava que, em meio aristocracia da Itália renascentista, desaparecesse no filho o desejo de fazer-se religioso. Luís cumpriu com tanto êxito as várias tarefas, que o pai mais se firmou no desejo de tê-lo como seu sucessor.
Mas, graças a interferência de amigos o marquês cedeu a ponto de dar-lhe permissão relutante e provisória, como príncipe do Sacro-Império, obtido a permissão do Imperador, pôde abdicar de todos seus direitos dinásticos em favor de seu irmão Rodolfo, e assim entrar no noviciado de Sant’Andrea da Companhia de Jesus no dia 25 de novembro de 1585 em Roma, com 18 anos incompletos. Seis meses depois morre Dom Ferrante, a partir do momento que o filho o deixou para
Dentro do noviciado jesuíta, Luís continuou a ser motivo de edificação para todos. Por causa da saúde fraca seus superiores tiveram que moderar a seu fervor religioso e pôr limites às suas grandes penitências: Para ele, era uma alegria sair pelas ruas de Roma, com um saco às costas, pedindo esmolas para o convento. Era também enviado a ajudar na cozinha e na limpeza da casa. Não sentia repugnância em fazer atos tão humildes, pois tinha diante dos olhos a Jesus Cristo humilhado pelos pecados dos homens, e a recompensa eterna que Ele dá àqueles que se rebaixa por amor a Deus. Visitava os doentes e os encarcerados. Mesmo nessas ocasiões, mantinha seu recolhimento em Deus e cumpria seus atos de devoção. Dizia que "aquele que não é homem de oração não chegará jamais a um alto grau de santidade nem triunfará jamais sobre si mesmo; e toda a preguiça e falta de mortificação que se vê em almas religiosas procedem da negligência na meditação, que é o meio mais curto e eficaz para se adquirir as virtudes". Ficou proibido de rezar ou meditar fora dos períodos estabelecidos. id.
Uma de suas devoções especiais era a Via Sacra, a qual tornou-se objeto contínuo de suas meditações. Tinha também especial devoção à Virgem, aos Santos Anjos, especialmente a seu Anjo da Guarda, e escreveu um estudo sobre eles. O Santíssimo Sacramento era objeto de suas afeições. Passava horas diante do sacrário em adoração. Quando estava hospedado no colégio da Companhia, em Milão, teve a revelação de que em breve morreria.
Em 1591, os jesuítas abriram um hospital em Roma, para cuidar dos empestados numa terrível epidemia, no qual o próprio geral e muitos membros da ordem prestaram serviço. Luis foi incluído entre eles, e se encarregou de instruir e animar os pacientes lavava-os, arrumava-lhes a cama e executava, com zelo, os ofícios mais humildes do hospital. No contato com os empestados Luis contraiu da peste e passou a sentir uma febre persistente que em três meses o reduziu a um estado de grande fraqueza. Em uma oração recebeu a premunição de que morreria
20 ingressar nos jesuítas, seu pai, que levara uma vida muito voltada às coisas do mundo, preparou-se tão bem para a morte, que atribuiu esses sentimentos às orações do filho. O marques reformara a sua maneira de viver. Pouco depois do seu falecimento, Luís teve que ir a Castiglione resolver uma áspera disputa entre seu irmão Rodolfo e seu tio, a propósito de terras. Sua mãe, que o venerava muito, e com sentimentos de verdadeira nobreza, recebeu-o de joelhos. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p. 214) 21
na oitava de Corpus Christi, nos dias subseqüentes ele recitava o Te Deum em ação de graças. Por volta da meia noite, entre 20 e 21 de junho de 1591, com os olhos fixos no crucifixo e com o nome de Jesus nos lábios morreu. Contava vinte e três anos e oito meses de idade. Suas relíquias repousam atualmente no altar da capela Lancellotti da Igreja de Santo Inácio em Roma. Luis foi canonizado em 1726. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p. 215 v. VI) SÃO FRANCISCO DE SALES
Os anos convulsionados na França, depois da Reforma Protestante séc XVI, formaram o pano de fundo da vida de Francisco de Sales.
Ele nasceu no dia 21 de agosto de 1567no castelo de Sales, no reino da Sabóia, situado entre a França, Itália e Suíça.
Foi batizado com o nome de Francisco Boaventura. Teve como padroeiro de sua vida Francisco de Assis.
Sua mãe assumiu a sua educação ajudada pelo padre Diagi. Com oito anos entra para o colégio de Annecy, aos 14 anos seu pai o manda para a grande Universidade de Paris, antes estava na universidade de Navarro, para os filhos de nobres. Aos 18 anos passa por uma terrível crise, a de ter perdido a graça de Deus, fez o pedido de estudar no Colégio de Clermont dos Jesuítas, em Paris.
Destacou-se em retórica e filosofia e estudou com empenho teologia e com 24 anos doutorou-se na Universidade de Pádua, em Direito Canônico e Civil.
Seu pai esperava que ele se casasse e a noiva destinada a ele era uma jovem herdeira, vizinha da família, mas para satisfazer o pai, tomou aulas de equitação, dança e esgrima. Fez voto perpétuo de castidade, e colocou-se sob a proteção de Maria.
Seu pai era um homem de caráter forte e achava que seus filhos deviam considerar sua vontade expressa como coisa definitiva. Francisco foi indicado para prepósito do capítulo de Genebra pelo Côn. Luís de Sales, e isso poderia abrandar a posição do pai.
Ajudado por Claud de Granier, bispo de Genebra, mas sem consultar ninguém da família, recorreu ao papa, de quem dependia a nomeação, e em seguida vieram às cartas de Roma instituindo Francisco preposto do capítulo. Ele surpreendeu-se, e só com relutância foi que aceitou a inesperada honra, esperando
Serviu os pobres com amor e zelo, e no confessionário dedicou-se aos mais pobres e humildes com especial predileção.
Seu estilo era tão simples que encantava os ouvintes, e mesmo sendo um erudito, evitava encher seus sermões de citações gregas e latinas. (THURSTON; ATTWATER, 1984, p. 248-249)
Devido a hostilidades armadas e invasões do protestantismo, a situação religiosa do povo de Chablais, na orla Sul do lago de Genebra, ficou lamentável, assim o Duque de Sabóia solicitou ao bispo de Granier que enviasse missionários que fossem capazes de reconduzir seus súditos para a Igreja.
O bispo fez uma primeira tentativa infrutífera e logo o padre foi forçado a retirar-se. Ciente da gravidade da tarefa, Luis oferece-se com essas palavras: Meu senhor, se me julgas capaz de cumprir, manda-me ir. Estou pronto para partir, e ficaria feliz em ser escolhido. O bispo aceitou imediatamente.
Mas seu pai considerava que aquilo era o mesmo que condenar Francisco à morte. Ajoelhando-se aos pés do bispo, exclamou: Meu senhor, eu entreguei meu filho mais velho, esperança da minha casa, da minha velhice, da minha vida, para dedicar-se ao serviço da Igreja como confessor, mas não posso dá-lo para ser mártir!
O bispo tentou influenciar o pai que lhe respondeu: Eu não quero resistir a vontade de Deus, mas não tenciono ser assassino de meu filho! Eu não posso concordar com este risco de vida! Possa Deus fazer o que for do seu agrado, mas em relação a este empreendimento, nunca haverá sanção de minha parte!
Assim Francisco teve a decepção de iniciar o seu trabalho sem a benção do seu pai. Era 14 de setembro de 1594, dia da Santa Cruz, quando viajando a pé e acompanhado apenas de seu primo, o Côn. Luís de Sales, partiram para reconquistar Chablais. Ficaram hospedados no castelo de Allinges, a seis ou sete milhas de Thonom, onde deviam retornar todas as noites, pois ali o governador da província havia se estabelecido com a guarnição.
Em Thonom, o que restou da população católica eram 20 indivíduos dispersos, e muito amedrontados com a violência para se declararem abertamente.
A esses Francisco exortou a terem coragem e perseverança.
com isso obter do pai consentimento para a sua ordenação. Francisco pôs a veste eclesiástica no mesmo dia em que seu pai lhe deu consentimento, e seis meses depois, a 18 de dezembro de 1593, foi ordenado padre. 23
Os missionários pregavam diariamente em Thonom, estendendo-se gradualmente aos povoados vizinhos da região. A volta para Allinges era perigosa e ainda o inverno. Francisco converteu uma família de calvinistas que lhe prestou socorro, quando numa noite voltando para Allinges, escapou do ataque de lobos passando a noite sobre uma árvore. No dia seguinte essa família o acolheu e prestou socorro em sua choupana, reanimando-o com comida e aquecimento, ao agradecer o visitante falou palavras de esclarecimento e caridade levando todos posteriormente a conversão. (THURSTON; ATTWATER, 1984, p. 250 v. I) .
SÃO VICENTE DE PAULO
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O EDUCADOR CAVANIS EDUCAÇÃO GRATUITA
AMOR PATERNO AOS JOVENS
PROFISSIONALIZAÇÃO A PERFEITA INSTRUÇÃO DOS JOVENS
DISCIPLINA
Pädagogik, Könisberg, 1803, "O ser humano não é nada mais do que a educação fez dele" (apud. Enciclopédia Espasa-Calpe) APRENDER A CONHECER E A PENSAR
APRENDER A FAZER
APRENDER A SER
Carisma e Espiritualidade dos veneráveis Antonio e Marcos Cavanis. Roma: [S.l.: s.n.],1982. Constituições e Normas. Roma: [S.l.: s.n.],1969. Espírito e finalidade da Congregação das Escolas de Caridade. Roma: [S.l.: s.n.],1969. Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro: Sextante. 2003. Educação: Um tesouro a descobrir: Relatório para a comissão internacional sobre educação para o século XXI. 8. ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 2003. Pedagogia da autonomia. 28. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. A arte de formar-se. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2002 (coleção CES). Curso de Filosofia. 5.ed. São Paulo: Paulinas v.2, 1982. O pequeno príncipe. 48. ed. Rio de Janeiro: Agir. 2004. Os dois leões de Veneza. Curitiba: Rosário, 1993. Um Santo para cada dia. São Paulo: Paulinas, 1983. Escola Cristã Para todos: São José de Calasanz e os padres Escolápios. Pomezia (Roma): Du Signe, 1996. Vida dos Santos de Butler. Petrópolis: Vozes,
http://www.calasanz.org/menu/menu.html (20/9/2004)
Procurando novos meios de atingir o coração e a mente do povo, começou a escrever, em cada momento livre, folhetos que copiados a mão expunha o ensinamento da Igreja em oposição aos erros do Calvinismo. Os seus escritos dessa época foram publicados com o título Controvérsias e a Defesa do Estandarte da Santa Cruz. Os folhetos silenciosamente faziam o seu trabalho e as conversões tornaram-se cada vez mais freqüentes com os católicos procurando a reconciliação com a Igreja. Ao finalizar o seu apostolado de missionário, ele tinha persuadido cerca de 72 mil Calvinistas a voltar para a Igreja Católica.
Após quatro anos o bispo de Granier em visita a missão, onde foi bem acolhido e pode administrar a confirmação. A fé e o culto foram restabelecidos na província e Francisco recebeu o nome de apóstolo de Chablais. Dom Granier o convidou para seu auxiliar e sucessor. Foi para Roma, onde o papa Clemente VIII, desejava que ele fosse examinado em sua presença. Reuniu-se uma assembléia que se fizeram presentes além do papa, Barônio, Belarmino, o Cardeal Frederico Borromeu, primo do São Carlos Borromeu, e outros sábios teólogos e homens de grande inteligência.
Sua nomeação foi confirmada e ele foi ordenado bispo de Genebra em 1602, mas residia em Annecy (agora situada na França), já que Genebra estava sob o domínio dos Calvinistas e ficou fechada para ele. Gozava de favores do rei Henrique IV. id.
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Sua diocese tornou-se conhecida na Europa por motivo de sua organização eficiente, seu clero zeloso e os leigos bem esclarecidos. A sua fama, como diretor espiritual e escritor aumentaram. Convenceram-no que se reunisse, organizasse e expandisse suas muitas cartas sobre assuntos espirituais e as publicasse. E foi o que ele fez em 1609, com o título Introdução à Vida Devota. Essa se tornou a sua obra mais famosa e, ainda hoje, é uma obra clássica que se encontra nas livrarias no mundo inteiro. Mas o seu projeto especial foi o escrito do Tratado do Amor de Deus, fruto de anos de oração e trabalho que continua sendo publicado hoje. Ele queria escrever também uma obra paralela ao Tratado, ou seja, sobre o amor ao próximo, mas a sua morte no dia 28 de dezembro de 1622, aos 55 anos de idade, o impossibilitou. Além das obras mencionadas acima, suas cartas, pregações e palestras ocupam cerca de 30 volumes. O valor permanente e a popularidade dos seus escritos levaram a Igreja a conceder-lhe o título de Padroeiro de Escritores Católicos. (THURSTON; ATTWATER, 1984, p. 251-252 v. I)
Francisco aceitou em sua casa um jovem com dificuldade de audição e criou uma linguagem de símbolos para possibilitar a comunicação. Essa obra de caridade conduziu a Igreja a dar-lhe um outro título, ou seja, o de Padroeiro dos de Difícil Audição. http://oblatosamlat.cybermeme.net/intpg2.html (11/09/2004)
Ele colaborou com Santa Francisca de Chantal na fundação da ordem religiosa das Irmãs da Visitação de Santa Maria, conhecidas pela simplicidade da sua regra e tradições e por sua abertura especial a viúvas. Uns 250 anos mais tarde, através da persistência de uma dessas irmãs, a Madre Maria de Sales Chappuis, que um sacerdote de Troyes, na França, Luís Brisson, fundou os Oblatos de São Francisco de Sales, uma comunidade de sacerdotes e irmãos, dedicados à vida e divulgação do espírito e dos ensinamentos de São Francisco de Sales. Padre Brisson fundou também uma comunidade de irmãs com o mesmo nome, Oblatas de São Francisco de Sales. id.
O espírito e a fama de Francisco e a influência dos seus escritos se estenderam rapidamente depois de sua morte. A Igreja o declarou santo formalmente em 1665 e deu-lhe o título excepcional de Doutor da Igreja em 1867. Sua festa a Igreja celebra no dia 24 de janeiro. (THURSTON; ATTWATER, 1984, p. 251-252 v. I)
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SÃO JOSÉ DE CALAZANS
Nasceu no Castelo de seu pai em Peralta de la Sal, diocese de Urgel, em Aragão, Espanha, no ano de 1557(56), filho do casal Pedro Calasanz e Maria Gaston.
Aprendeu a ler e escrever com um tutor, e ao completar 11 anos, seus pais o enviaram para estudar humanidades em Estadilha, com os padres trinitários, onde permaneceu até os 14 anos.
Continuou seus estudos na Universidade de Lérida, onde iniciou o seu caminho de vida eclesiástica. Recebeu a tonsura no dia 17 de abril de 1575, das mãos do Bispo de Urgel, na Igreja de Santo Cristo de Almatá, em Balaguer. Aos 21 anos doutorou-se em direito em Lérida.
Estudou Teologia em Valência, lá foi contratado como secretário de uma mulher da nobreza que quis induzi-lo a pecar com ela, assim resolveu terminar seus estudos de Teologia em Alcalá.
Os 42 anos de reinado de Felipe II, não foram para a Espanha um tempo de paz.
Pedro, o irmão mais velho de José, partiu para a guerra foi assassinado pelos rebeldes em 1579.
José terminara o segundo ano de Teologia e retornou a Peralta e passou um ano completo lá. A morte do irmão herdeiro do sobrenome e de todos os bens mudou os planos do pai que quis dissuadir José a abandonar a vocação sacerdotal para fundar uma família.
Pouco depois a morte do primogênito, morre a mãe.
Após esses acontecimentos e a pressão do pai para que o único filho homem que restara na família levasse adiante o seu sobrenome, deixaram José gravemente doente. E o pai nessa ocasião fez uma promessa a Nossa Senhora, de que se o filho restabelecesse a saúde poderia ser padre com a sua benção. E isso se deu no dia 17 de outubro de 1582, quando José recebeu as ordens menores e recebeu também o subdiaconato em Huesca pelas mãos do Bispo Dom Pedro Frago. E finalmente no dia 17 de dezembro de 1583, foi ordenado sacerdote pelo seu Bispo Frei Hugo Ambrosio de Moncada. Em 1585, José fazia parte dos Familiares, homens de confiança do Bispo dominicano de Barbastro, Frei Felipe de Urries. (TELLECHEA, 1996, p.3-8)
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José foi, secretário e Familiar do Bispo de Lérida, Dom Gaspar João da Figueira, em Monzon, perto de Peralta.
O Bispo fora nomeado visitador apostólico do Mosteiro de Montserrat e no dia 28 de outubro de 1585 ele chegou ao mosteiro com sua comitiva, do qual fazia parte José de Calazans. No dia 13 de fevereiro de 1586, o Bispo visitador foi assassinado em Montserrat, José volta para casa com o intuito de cuidar de seu pai, e ficou junto dele até o dia de sua morte, no início de 1597.
No dia 12 de fevereiro de 1587, José assume o cargo de secretário do Cabido, corporação dos cônegos da catedral de Urgel e mestre de cerimônias. Neste momento Urgel estava sem Bispo.
No dia 12 de novembro de 1588, foi nomeado pároco de Claverol e Ortoneda, duas aldeias perdidas entre as montanhas.
No dia 28 de junho de 1589, foi nomeado assistente eclesiástico de Tremp, o qual lhe possibilitou conhecer melhor a índole do povo.
Sua vocação de educador foi sugerida pelo cônego Pedro Gervás, que junto com o Bispo de Urgel, queriam fundar colégios, dirigidos por religiosos. José em vista disso parte para Roma passando por Barcelona. O objetivo é conseguir o canonicato, mas ficando a serviço da diocese.
De Barcelona parte de navio para Itália, desembarca em Civita Vecchia, concluindo sua viagem a pé como peregrino.
Chega a Roma por volta de fevereiro de 1592, levando às congregações romanas, cartas de recomendação do seu Bispo. Foi morar no Palácio do Cardeal Marcantonio Colona que lhe confiou a educação dos seus sobrinhos, príncipes Marcantonio e Felipo. Perto do Palácio Colona, estava a Igreja dos doze apóstolos, cuja confraria tinha por objetivo socorrer pobres e doentes. José inscreveu-se nessa confraria a passou a ajudar pobres e doentes.
Em 1596(95), houve uma epidemia que assolou Roma. José destacou-se no serviço dos enfermos na administração dos últimos sacramentos, e a ajudar enterrar os mortos, sem perder de vista o desejo de instrução das crianças. A peste agravou-se, gerando uma multidão de órfãos, viúvos e viúvas, e as crianças sem acompanhamento, tornando-se marginais. José conclui que a única maneira de reverter essa situação seria através da educação e assim busca ajuda para tal tarefa. (TELLECHEA, 1996, p.8-15)
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José procurou ajuda junto ao Capitólio romano, sede das autoridades municipais de Roma, não conseguiu o que esperava, tenta então ajuda junto aos jesuítas e aos dominicanos que tinham colégios, mas nenhum dos dois quiseram se envolver com escolas populares.
Em abril de 1597, Calasanz se encontrou com o pároco de Santa Dorotéia o padre Antonio Brandini e descobriu que anexa a essa Igreja, havia uma escola paroquial que acolhia crianças que pagavam e outras gratuitamente. Teve então a idéia de um projeto educativo, uma escola onde pudesse estudar gratuitamente somente as crianças pobres, e ele se encarregaria de arcar com as despesas.
Vieram muitas crianças, a metodologia consistia em além do catecismo, esses aprendiam a ler, escrever, gramática e aritmética. Isto se deu em 1597. Assim nasceu a primeira escola popular gratuita, nasciam as escolas pias.
No ano de 1598 houve uma enchente no rio Tiber que atingiu a Igreja de Santa Dorotéia e a escola, o número dos meninos, vindos dos os bairros da cidade que crescia. Duas salas estavam ocupadas e José já tinha alugado uma casa vizinha para escola.
Em 1600, com a morte do padre Brandini, José toma a decisão de mudar-se ao centro da cidade, pois estavam com um número de 500, meninos.
Em 1601, mudou-se para o Palácio Vestri.
Em 1602, Calasanz reuniu os seus companheiros em uma associação religiosa que denominaram de Congregação das Escolas Pias. Nessas escolas trabalhavam professores assalariados.
Calasanz com freqüência acompanhava as crianças até suas casas, logo após as aulas.
O papa Clemente VIII tendo ouvido falar dessa obra de caridade, enviou dois cardeais para visitá-la. O relatório dos cardeais foi tão positivo que o papa responsabilizou-se pelo aluguel do palácio até a sua morte. E também deu ajudas que permitiram manter a instituição, graças a essa ajuda o número dos alunos chegou a passar de 700. Com tantos alunos José resolveu instalar um sino para anunciar o início e o término das aulas, e sofreu um acidente onde quebrou uma perna, que o deixou defeituoso para o resto de sua vida. (TELLECHEA 1996 p. 16-27)
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Em 1605, a escola mudou-se para a casa que pertencia a Otávio Mannini, na frente da Igreja de São Pantaleão, nesse novo estabelecimento acolheram mais de 700 crianças.
Para tentar suprir as dívidas instalaram à frente do Palácio uma caixa para coletas que comprovou a generosidade e a aceitação da escola nesse novo local.
No início de 1612, compraram, com a ajuda de Cardeais, um outro edifício próximo da Igreja de São Pantaleão, que o Papa Paulo V confiou aos padres escolápios e sugeriu que a nova casa recebesse o nome de São Pantaleão, nessa casa São José viveu mais 36 anos.
Em 1617, surgiu na Igreja, a Congregação Paulina dos Pobres da Mãe de Deus das Escolas Pias. No dia 25 de março o cardeal Giustiniani presidiu a cerimônia na qual os primeiros escolápios vestiram o hábito religioso.
Em 1619, os Cardeais utilizaram a casa dos escolápios como alojamento, entre esses o cardeal Alexandre Ludovisi que posteriormente foi eleito Papa Gregório XV, a quem José solicitou a aprovação das constituições e a elevação da Congregação a Ordem Religiosa. José levou três meses para redigir as constituições e no dia 18 de novembro de 1621 as Escolas Pias obtiveram o título de Ordem Religiosa. (TELLECHEA 1996 p. 28-31)
Os escolápios estenderam-se para Nápoles e Sicília, com professores, noviços, padres tendo como superior padre Alacchi, que tinha plenos poderes para fundar novas casas, de Nápoles a Santiago de Compostela, foram barrados apenas em Veneza por uma epidemia de peste.
Thomas Campanella, amigo de Calasanz, era filósofo acusado de rebelde e herege, ficou hospedado na casa de Frascati e a pedido de José ministrou filosofia aos congregados enquanto esteve lá.
Em 1630, os escolápios estabeleceram-se em Florença, o superior foi o padre Francisco Castelli, que estava acompanhado pelos padres Michelini e Seltimi, amigos e discípulos de Galileu Galilei.
Calasanz via com bons olhos o relacionamento de seus congregados com os sábios florentinos, apesar dos processos e condenações que Galileu sofria do santo ofício. Essa comunidade de Florença acolheu alunos de Galileu e padres cultos.
Foi admitido um sacerdote de meia idade não muito culto de nome Mario Sozzi, que a seu tempo fez a profissão. Durante anos esse demonstrou uma conduta
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obstinada e perversa, sendo um incômodo para os irmãos, mas conquistou influencia e boa reputação junto ao Santo Ofício e ao Tribunal da Santa Inquisição.
Em 1639, conseguiu para si a nomeação provincial dos clérigos regulares das escolas pias da Toscana, com poderes extraordinários e independência em relação ao superior geral. Dirigiu a província como quis e prejudicou como pode a reputação de São José, junto às autoridades romanas e por fim o denunciou junto ao Santo Ofício.
O Papa Urbano VIII, enraivecido ordenou que José fosse preso. O Cardeal Cesarini, como protetor da Instituição e querendo defender a José, ordenou que os documentos e cartas do padre Mário fossem apreendidas, Os mesmos envolviam alguns documentos do Santo Ofício.
Monsenhor Albizzi, executa a prisão de Calasanz e seus companheiros, exigindo que Calasanz entregasse os documentos que supostamente foram roubados do padre Sozzi, por ocasião da investigação ordenada por Cesarini.
Calasanz nada sabia e o Cardeal interveio em favor dos caluniados que foram inocentados. (TELLECHEA 1996 p. 35-38)
Padre Mário ficou ileso e continuou a tramar para conseguir controle de toda a instituição, apresentou José como idoso e incapaz para essa responsabilidade.
Conseguiu através de artifícios afastá-lo do cargo e maquinou para que fosse designado um visitador apostólico favorável às suas próprias intenções. Esse visitador e padre Mário apoderaram-se do supremo comando da instituição e José submetido ao tratamento mais humilhante, insultuoso e injusto, enquanto a ordem era reduzida a uma confusão e uma impotência total.
No final de 1643, Mário veio a falecer, sendo substituído pelo padre Cherubini, que continuou com a mesma política e José suportou com paciência e insistia que a ordem obedecesse aos seus perseguidores, pois eles eram de fato autoridades. Até mesmo defendeu Cherubini contra uma oposição violenta desencadeada por alguns sacerdotes jovens indignados com a traição. THURSTON; ATTWATER, (1992, p. 234)
Foi nomeado um representante do Papa para fiscalizar a Ordem. O resultado foi um decreto assinado em 16 de março de 1646 pelo Papa Inocêncio X, reduzindo a Ordem a Congregação de votos simples, sujeita ao Bispo diocesano. op. cit.
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Em julho de 1648, Calasanz sofreu um outro acidente. Tropeçou em frente ao Palácio dos Medicis, machucou o pé e como a ferida não curava ficou impossibilitado de sair de casa.
Padre Cherubini ficou encarregado de redigir as novas constituições, porém dentro de alguns meses ele fora acusado pelos auditores da Rota de má administração do colégio Nazareno,do qual era reitor. Ele se afastou e caiu na desgraça, mas no ano seguinte antes de morrer se reconciliou com José de Calasanz, que o confortou em seus últimos momentos.
Algum mês mais tarde, em 25 de agosto de 1648, faleceu o próprio José, sendo enterrado na Igreja de São Pantaleão. Ele estava com 92 anos e foi canonizado em 1767.
O fracasso da Instituição de Calasanz foi apenas aparente, sendo ela reconstituída por votos simples em 1656 e restaurada como Ordem religiosa em 1669. (THURSTON; ATTWATER, 1992, p. 235 v. VIII)
Atualmente, os Clérigos Regulares das Escolas Pias, comumente conhecidos por Piaristas ou Escolápios estão em várias partes do mundo como: Ásia, África, nas Américas do Norte, Central e do Sul e na Europa.
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Natural de Pony, aldeia próxima a Dax, na Gasconha, França.
Seus pais João de Paulo e Beltrana de Moras proprietários de um pequeno sítio. Entre seis filhos Vicente era o terceiro de quatro meninos. (IBÁÑEZ, p. 38)
O pai reconhecendo a vivacidade de Vicente e sua inteligência coloca-o aos cuidados dos franciscanos reclusos, em Dax. Vicente conclui seus estudos na Universidade de Tolosa, e no dia 23 de setembro de 1600 é ordenado sacerdote aos 20 anos, pelo bispo de Perigeux, Francisco de Bourdeilles, na capela de sua casa de campo, hoje Château L’Evêque.
Em 1608 entra pela primeira vez em Paris e mora com um amigo.
No ano de 1609 é acusado de roubar 400 escudos por esse seu amigo. Esse magistrado persegue-o juridicamente, exigindo da autoridade eclesiástica que publicasse contra Vicente, uma monitória que era um mandato da autoridade eclesiástica, por solicitação de um juiz leigo, para que, sob pena de excomunhão, se manifestasse àquele que, soubesse de determinado fato, geralmente de
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determinado crime (...). As monitórias eram lidas pelos párocos no momento da prédica da missa dominical por três domingos consecutivos. Vicente foi caluniado durante seis meses até que o verdadeiro ladrão confessou o roubo. (IBÁÑEZ, p,41)
Ele foi em 1610, nomeado capelão da rainha Margarida, esposa repudiada de Henrique IV. Cargo de baixa rentabilidade e de nenhum prestígio social em Valoi. Ibid., p. 42
Em 1612, foi nomeado ministro paroquial pela primeira vez em lichy, depois de ter decidido não entrar na nova comunidade do Oratório de São Felipe Néri.
Em Paris, Vicente adquiriu conhecimento com o sacerdote Pedro de Berulle, superior da ordem do Oratório, mais tarde, Cardeal que tinha grande estima por Vicente e que solicitou em 1613 que ele fosse tutor dos filhos de Felipi de Gondi, conde de Joigny onde ficou até 1617. A senhora de o Gondi escolheu como seu diretor espiritual e confessor. Ibid., p. 43
Em 1617, no interior de Folleville, Vicente ao atender a confissão de um camponês, percebeu quanto necessária se fazia a instrução das pessoas com relação a esse sacramento, viu o estado espiritual deplorável em que se encontravam as pessoas no interior da França. A senhora de Gondi insistiu a Vicente que pregasse na Igreja de Folleville e que desse uma instrução completa ao povo sobre a obrigação de arrepender-se e de confessar os pecados. Após essa catequese, inúmeras pessoas vieram ao seu encontro, ao ponto que ele teve que solicitar ajuda dos Jesuítas de Amiens para atender as confissões. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p.181)
Auxiliado pelo padre Berulle, Vicente aos 38 anos deixa a residência da condessa, em 1617 descobre que somente os pobres é que poderão traçar-lhe o caminho para encontrar a Deus. Tornar-se pároco em Châtillon-les-Dombes, numa paróquia em situação de miséria. Ali converteu o conde Rougemont e outros.
No dia 23 de agosto de 1617, Vicente de Paulo reúne as pessoas mais comprometidas da paróquia na ação caritativa e funda a primeira Confraria da Caridade ou Conferência Vicentina, que quer dizer, uma organização cristã leiga, sensível a todas as misérias dos pobres, e comprometida através de esforços para remedia-las. (IBÁÑEZ, p. 53)
Voltou a Paris, para exercer seu apostolado junto às galeras que estavam confinadas na Conciergerie. Foi designado oficialmente capelão da penitenciária, da
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qual o conde de Gondi era general, nesse lugar em 1622 pregou missão para os condenados.
A senhora de Gondi persuadiu o marido a cooperar com ela na organização de uma associação de missionários bem formados e zelosos, para dar assistência aos vassalos e arrendatários no condado e aos habitantes do interior, em geral. Apresentaram esse plano a seu irmão, que era arcebispo de Paris, e o mesmo destinou o Collége de Bons Enfants, para abrigar a nova comunidade. Os membros desta deveriam renunciar aos cargos eclesiásticos, dedicar-se às cidades menores e as aldeias, e a se sustentarem de um fundo comum. São Vicente tomou posse dessa em abril de 1625. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p.182)
Em 1633, o prior dos cônegos regulares de São Vitor, doou à Instituição o convento de São Lázaro, que foi transformado na casa mãe da Congregação. Com base nesse nome, os padres da missão são conhecidos como lazaristas, porém as vezes como vicentinos, segundo o seu fundador. id
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Formaram uma Congregação de padres seculares, que se submetem a quatro votos simples: pobreza, castidade, obediência e estabilidade. Dedicam-se a missões, principalmente à população do campo. Atualmente, possuem colégios e missões em todas as partes do mundo. Vicente em vida assistiu à fundação de vinte e seis casas instaladas na França, no Piemonte, na Polônia e em outras partes, inclusive em Madagascar. id
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Ainda em 29 de novembro de 1633 Vicente de Paulo e Luísa de Marillac fundaram a Companhia das Filhas da Caridade. (IBÁÑEZ, p. 53)
Vicente buscava o alívio dos seus semelhantes em qualquer necessidade, tanto espirituais como materiais. Assim organizou a primeira instituição de caridade em Chântillon, para dar assistência as pessoas pobres e enfermas de cada paróquia e dessas instituições, com a ajuda de Santa Luiza de Marillac, surgiu a Instituição das Irmãs de Caridade, cujo convento é o quarto do doente, sua capela a Igreja paroquial, seu claustro as ruas da cidade.
Essas Instituições de caridade eram mantidas pelas senhoras ricas de Paris, que Vicente organizou com o nome de Damas da Caridade, com a finalidade de coletar fundos para dar assistência às suas obras.
Conseguiu a fundação e a direção de diversos hospitais para enfermo, crianças abandonadas e idosas e em Marselha o hospital dos sentenciados. Todas
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essas instituições ele organizou sob uma regulamentação comum. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p.183)
Fez um esquema especial de exercícios espirituais para os que estavam para receber as ordens sacras e um outro tipo para os que desejavam fazer uma confissão geral. Prescreveu conferências eclesiásticas regulares sobre os deveres do estado clerical, com a intenção de sanar o relaxamento e abuso s que via ao seu redor. id
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Durante as guerras da Lorena, Vicente arrecadou esmolas em Paris para ajudar as vítimas da guerra. Enviou seus missionários aos pobres e doentes da Polônia, Irlanda, Escócia, até as ilhas Hébridas e durante a sua vida, mais de 1 mil e duzentos escravos cristãos foram libertados no norte da África. Foi chamado para atender o rei Luiz XIII, quando estava a morte, e contava com os favores da rainha regente, Ana da Áustria. A seu intermédio em 1652 as freiras beneditinas inglesas de Ghent receberam permissão para abrir uma casa em Boulogne., id.
Vicente pretendia que a humildade fosse a marca da sua congregação e essa lição ele não cansava de repetir. Certa vez, apresentaram-se a ele dois candidatos com uma vasta formação intelectual, ele recusou a ambos dizendo: "Vossas aptidões vos elevam acima de nossa condição. Vossos talentos podem ser úteis em algum outro lugar. Nossa maior ambição é ensinar aos ignorantes, levar os pecadores ao arrependimento e semear o espírito do Evangelho da Caridade, da humildade, da mansidão e da simplicidade nos corações dos cristãos".
E sustentava que uma pessoa, dentro do possível, nunca deveria falar de si mesma ou de seus próprios problemas. Tal procedimento provinha do coração que alimentava o orgulho e o amor próprio. Ibid., p.184
Preocupou-se com o surto e a proliferação da heresia jansenista e se opôs ativamente aos falsos mestres, e não permitia que ficasse na congregação sacerdote que professassem suas próprias doutrinas.
No fim de sua vida sofreu graves enfermidades. Faleceu no outono de 1660, no dia 27 de setembro, sentado e sua cadeira com oitenta anos. id
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IRMÃOS CAVANIS
A família Cavanis fazia parte da ordem dos secretários da República de Veneza.
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Os antepassados dessa família, provenientes de Bérgamo, instalaram-se em Veneza por volta de 1500 e na República faziam parte da ordem dos secretários.
O Conde João Cavanis de 1769, até sua morte foi secretário da Chancelaria ducal, casou-se no dia 27 de abril do mesmo ano com Cristina Pasqualigo Basadonna, descendente do patriziato veneziano. (POSITIO 1979, p. XXVII)
O conde João foi um homem de profunda convicção religiosa cristã. Formou-se especialmente na escola dos dominicanos observantes do
Sua esposa não era muito culta, mas atenta e piedosa, como afirmaram os filhos e testemunhas que a conheceram.
O Casarão dos Cavanis localiza-se na
O jovem casal logo teve três filhos: Apolônia Beatriz Maria Cavanis que nasceu no dia 30 de julho de 1770, o segundo filho de nome Antonio Ângelo Maria Cavanis nasceu no dia 16 de janeiro de 1772 e o terceiro filho Marcos Antonio Pedro Maria Cavanis que nasceu no dia 04 de maio de 1774. Como se percebe a vida piedosa e devota do casal deu aos três filhos nome de Maria. Ibid., p. XXVIII
Antônio foi encaminhado para os estudos numa escola de religiosas próxima aos dominicanos observantes. Marcos já na infância preferiu um professor homem. Desde a meninice o pai incentivou os meninos a escreverem um diário, costume esse que possibilita hoje um maior conhecimento objetivo de ambas as vidas.
Em 04 de julho de 1778, com seis anos, Antônio passa a ter aluas com um sacerdote dominicano, o padre Joaquim Calderari, que em 8 de março de 1780 começou a ministrar aulas também para Marcos. Ibid., p. XXIX
Aos nove anos Marcos, compõe poesias de sua autoria.
Antônio aos 11 anos recebe a primeira Eucaristia, na festa de Nossa Senhora do Carmo no ano de 1782 e Marcos também aos 11 anos, na festa do Santíssimo Nome de Maria no ano de 1785. Ibid., p. XXXVIII
Os pais educaram os próprios filhos com sensibilidade pedagógica e cristã caracterizada de delicadeza, grande afeto, autoridade, verdadeira e sólida piedade.
Zattere, estudou teologia e filosofia. No final de sua juventude demonstrou-se preocupado em animar de espírito cristão da frívola sociedade dos salotti; participou ativamente em várias confraternite cittadine, mas se distingue na irmandade dos pobres, na sua paróquia de Santa Inês. Riva delle Zattere, próximo a Igreja de Santa Inês. 35
Em 1790, Marcos entrou na escola do padre Antônio Venier. (POSITIO, 1979 p. XXIX)
A atividade semanal que religiosamente exerciam com o pai era a visita aos pobres; chegavam nos casebres para conversar e consolar as famílias distribuindo roupas e comida.
A partir dessas visitas foi crescendo e se desenvolvendo o senso crítico dos meninos que cada vez mais percebiam que existia uma diferença social desumana que os separava; que ao seu redor existia sofrimento e diferentes condições de vidas.
Ainda na infância num instinto de sintonia fraterna ambos foram positivamente marcados com o exemplo do pai, que os sustentou para no futuro abraçarem a dedicação aos pobres em especial os indefesos. (SANTA CRUZ, 1993, p.9)
Antonio foi eleito notário extraordinário da República de Veneza em 21 de janeiro de 1788; em 28 de dezembro de 1789 foi eleito secretário do governador das galeras, Benedetto Trevisan. Em meio a nobreza ele percebeu que a classe alta é dominadora e corrupta, assim vive um fastio do material enquanto encontra a miséria em cada esquina, quando retornava para casa.
Durante a experiência desses anos, de 1790 a 91, nasce nele o desejo de fazer-se religioso. Certo de seu desejo leva-o ao conhecimento do pai religioso, que para sua surpresa não aceita, recebendo assim o primeiro não de sua vida. Ibid., p.12-13
Aos 23 de novembro do ano de 1793, morre o Conde João Cavanis, o motivo foi uma asma convulsiva que o consumiu; antes de morrer pede aos filhos para que cuidassem da mãe e não esquecessem os pobres. Antônio nessa ocasião torna-se o responsável pela família e com 21 anos já estava formado pela academia dos Dominicanos, tornou-se teólogo e filósofo e na Suma Teológica de Santo Tomás, achou a explicação da verdadeira Caridade. Antônio faz questão de amar os pobres como o pai, como se fossem seus próprios filhos. (POSITIO, 1979, p. XXX)
Já Marcos, dedica-se a cuidar da mãe, que concede a Antônio autorização para seguir seu caminho vocacional com os estudos eclesiásticos e abandonar seu emprego na secretaria ducal. Marcos também tinha conseguido emprego de secretário junto ao governo do Veneto e a partir de 1792, foi intensa sua atividade na
confratrenite cittadine, dedicando principal cuidado à fraternidade dos pobres, a 36
escola do Santíssimo Sacramento, a escola da doutrina; todas essas atividades em sua paróquia de Santa Inês.
Em 5 de março do ano de 1794, Antonio renunciou o ofício de secretário e recebeu a veste talar (POSITIO, 1979, p.XXX)
Em 6 de abril recebeu a tonsura e as quatro ordens menores. No entanto pede ao Senado, para obter uma pensão que lhe permita constituir um patrimônio eclesiástico. Antônio conseguiu com o patriarca de Veneza, Dom Frederico Maria Giovanele, dispensa dos estudos teológicos. Em 14 de março de 1794, ele recebe o subdiaconato e em 20 de dezembro foi ordenado diácono e aos 21 de março de 1795 é ordenado sacerdote, pelo Patriarca de Veneza Frederico Giovanelli, sendo dispensado pela Santa Sé dos 13 meses que faltavam para completar a idade canônica exigida para sacerdotes. Também o patriarca permite que Antônio trabalhasse na Igreja de Santa Inês. SANTA CRUZ, (1993, p.18)
Nos primeiros anos de 1796, inicia em casa uma Academia de Santo Tomás, aprofundando o estudo na Suma Teológica, entre os participantes do grupo se fazia presente seu irmão Marcos ibid., p. XXXII
Padre Antônio realizando o desejo do pai começou trabalhando no hospital dos incuráveis. Um lugar em estado de pestilências, que exalava um cheiro de podridão. Aqui o recém sacerdote contrai uma fraqueza generalizada acompanhada de tosses convulsivas. Nessa fase de sua vida deixa escrito: "Fui Marcado pela Caridade Divina". Apalpei o amor de Deus nessa Terra"..."Achei o céu na Terra". "Sinto-me pai... que ama os doentes como filhos!" A caridade me faz sofrer, mas me fez muito mais feliz! Estou marcado com o amor de Deus! Aqui nesse hospital recorda constantemente a vida de São Camilo de Lellis. (SANTA CRUZ, 1993, p.18)
Em contra partida Marcos continua seu trabalho no governo: acompanha processos, transcreve as corrupções, anota as irregularidades, constata o desnível moral nas camadas sociais.
O Doge Ludovico Manim assina uma capitulação tornando Veneza República Popular e assim Napoleão tomou conta de Veneza sem pisá-la. Meses depois a vendeu para a Áustria, no dia 17de outubro de 1797, pondo fim em 17 séculos de glória da sereníssima. Veneza torna-se escrava de imperadores e continua vivendo como se nada tivesse acontecido. Ibid., p.23
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Com Igrejas vazias e colégios fechados, restam: ignorância, imoralidades, juventude abandonada, principalmente crianças e jovens sendo objetos de prazeres e de explorações comerciais.
Em meio a tantas atrocidades causadas pelos homens, Marcos faz o propósito de lutar pelos abandonados, injustiçados, lutar pela verdade e pela justiça.
Na casa da mãe os irmãos se encontram e dialogam, planejam e aprofundam idéias que traziam das reuniões da academia teológica de Santo Tomás, com os dominicanos. O tema que mais refletiam e se enamoraram foi do da caridade.
Concluíram que a caridade evangélica é a do Bom Pastor, do Filho pródigo, da ovelha perdida que vale as noventa e nove e da noventa e nove que vale uma ovelha, pois toda pessoa tem valor infinito perante o criador.
Marcos estarrecido com o abandono da juventude veneziana: vendo meninas pelas ruas estreitas dos quarteirões, rapazes procurando prazeres ao longo da amurada do grande canal, questiona-se quanto ao que poderia fazer. (SANTA CRUZ, 1993, p.28)
A frase mais marcante da caridade para esses irmãos desde a infância esta escrita na carta de São Pedro apóstolo: "Deus não faz distinção de pessoas". Assim os irmãos insistem que a caridade deve ser igual para todos. Aqui cabe um pensamento de padre Antônio citado por Santa Cruz: "O que devemos assegurar no nosso apostolado é um coração de pai, e entranhas de mãe, se não vamos cair no erro de tanta pastoral veneziana, que dá preferência aos pobres ou aos ricos. A nossa Caridade deve ser como em família, onde todos têm voz e vez, sem distinção. Ninguém é preferido e ninguém é excluído". Ibid., p.29
Com a queda da República Veneziana, em 1797, houve consequências desastrosas. No prazo de aproximadamente nove anos se revezaram quatro governos; a cidade se tomou terra de conquista e, quem sofreu as consequências, foi o povo e a juventude.
Com o desejo de fundarem uma escola totalmente baseada na caridade, no final de 1797, Marcos apresenta o primeiro aluno, um menino analfabeto, pobre e órfão chamado Francisco Agazzi, que Antônio começou a instruir privativamente. Após esse surgiram outros que Antonio instruía quase gratuitamente. (POSITIO, 1979, p. XXXII)
Padre Antônio leva-o para a sala de visitas e começa a instruí-lo. Os Irmãos Cavanis esbanjam nesse menino todo seu amor de pais espirituais e nasce no
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palácio dos Cavanis a escola totalmente gratuita com um aluno. (SANTA CRUZ, 1993, p.30)
O jovem Francisco entusiasmou-se com o exemplo de vida dos Irmãos e pediu orientação para entrar no seminário, isso se deu no ano de 1802, após esse primeiro, mais quatro pediram para serem acompanhados pelos condes.
Padre Marcos comentou: "nós não iremos imitar os colégios particulares, que apenas dão aulas. Isto fazem muito bem, os leigos". Padre Antônio confirmou: "Vamos incendiar o mundo com a Caridade que é o amor de Deus vivo em nossos corações". Ibid., p.32
A Congregação Mariana foi iniciada no dia dois de maio, no ano de 1802 com nove alunos que entraram em procissão na Igreja de Santa Inês. Um movimento mariano que marcou o início do apostolado dos dois irmãos. Uma experiência de formação humana e cristã, em prol das crianças e jovens pobres de Veneza. Em 2 de janeiro de 1804 nasceu a primeira Escola de Caridade Cavanis, com um professor e 15 alunos. Desta maneira, os irmãos anteciparam a fundação das "escolas públicas" por parte do Estado e iniciaram uma obra de saneamento social e espiritual.
Marcos como seu irmão também sente o desejo de tornar-se padre, e ele escolheu uma terça-feira de carnaval para pedir sua demissão na Chancelaria Ducal, era o dia 13 de fevereiro de 1806. Ele também já tinha estudado filosofia e teologia, o que possibilitou logo a sua ordenação no dia 20 de dezembro de 1806, pelas mãos do Bispo Caorle Giuseppe Peruzzi.
Em 1806, fizeram um contrato de aquisição do Palácio Da Mosto, junto a Igreja de Santa Inês. No mês de abril de 1808, abriram uma tipografia para os jovens, com a intenção de ocupá-los no contra turno para não ficarem ociosos pelas ruas de Veneza e também para oferecer profissionalização àqueles que não conseguiam se sair bem nos estudos. E nesse mesmo ano no dia 10 de setembro, iniciaram o Instituto feminino, que conseguiu sede definitiva, no dia 10 de setembro de 1811, no ex-Convento das Eremitas, próximo a paróquia de São Trovaso. Uma senhora nobre de nome Madalena de Canossa, se prestou em organizar e formar as primeiras mestras. (POSITIO, 1979, p.XXXVI)
No ano de 1810, os Cavanis, começaram a formar uma biblioteca para os jovens e os sacerdotes. E no ano de 1813, iniciaram a publicação de uma série de livros para serem utilizados pelos jovens em seus estudos, alguns desses foram
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manuscritos pelo Padre Antônio e custaram a ele longo trabalho e muito cansaço. Ibid., p. XXXV
Os dois Cavanis pensaram instalar suas escolas em todos os bairros de Veneza. A essa iniciativa unem os exercícios espirituais e depois as conferências dominicais, para os jovens, que o padre Antonio executou até a sua velhice. Bem como os retiros mensais para sacerdotes, marcados pela humildade e simplicidade do mesmo.
No ano de 1810, a Igreja de Santa Inês, foi fechada para o culto e os servos de Deus, perderam a Capela do crucifixo, onde residia a Congregação mariana, no entanto se improvisaram num amplo oratório do Palácio Da Mosto.
Em 1811, a policia vetou, todas as funções, exceto a missa. No ano seguinte de 1812, o governo impôs aos servos de Deus de sujeitarem-se, como eram professores particulares a um exame de habilitação estatal.
Tudo se concluiu com o reconhecimento estatal de valor público das Escolas de Caridade, com todos os seus direitos.
Em decorrência desse reconhecimento e devido a fama dos Irmãos que se espalhava cada vez mais, por duas vezes o Imperador da Áustria veio visitar a obra. A primeira no dia 12 de dezembro de 1815 e a outra no dia 23 de fevereiro de 1819, sem esquecer que no ano de 1817, as Escolas de Caridade receberam o Palácio Cornes, por parte do papa Pio VII. Ibid., p. XXXVII
Em 27 de agosto de 1820, festa de São José de Calasanz, o padre Antonio deixa seu palácio para entrar em um estabelecimento pobre e úmido que os irmãos chamaram de
No ano de 1830, quando o patriarca de Veneza, Jacopo Mônico visitou a Congregação, os fundadores apresentaram a ele o projeto das constituições, dessa congregação, a qual foi inspirada nas constituições dos Escolápios, com algumas particularidades que a distingue da outra.
As constituições e normas da Congregação das Escolas de Caridade entraram em vigor no dia 2 de fevereiro de 1831. Salvo que a referida Congregação ainda não tinha aprovação pontifícia, que chegou após dificuldades e os obstáculos
Casetta, para dar início a Congregação das Escolas de Caridade. Estavam com ele mais quatro jovens. O Padre Marcos continuou morando em casa para cuidar da mãe octogenária. Estava fora da Casetta só aparentemente, porque espiritualmente sofria por não poder seguir o irmão, e materialmente continuava a dar para a obra todas as suas energias. 40
da burocracia governativa, no dia 16 de julho de 1838, quando o patriarca de Veneza a apresentou solenemente. POSITIO, (1979, p. XLIV)
7.1 TEMPERAMENTOS DIFERENTES
Padre Marcos devido a sua atividade de manter a obra encontrava-se menos junto aos jovens, mas sempre que pudesse se encontrava no meio deles.
Bastava sua presença para levar os jovens ao recolhimento no oratório e a espontaneidade no horto. Com um olhar ou palavra obtinha a perfeita e amorosa obediência dos jovens. Não se pode pensar que tivesse uma atitude dominadora ou palavras fortes para obter o que queria. Seu jeito de ser era repleto de Caridade e só fervida Caridade.
Conseguia tudo o que queria dos jovens porque eles sabiam eram muito amados por ele. E por isso iam com gosto ao seu encontro e não se cansavam de estarem com ele; ele a um olhava, a outro passava a mão na cabeça, a um fazia elogio, a outro exortava; tanto os elogios ou exortações sabiam dá-las com espontaneidade límpida, era para os jovens uma maravilha ouvi-lo.
Com duas palavras moldava o caráter de uma criança e quando aconselhava poucas palavras valia um sermão. Olhava por exemplo um indisciplinado sem rumo e dizia, "você é como um navio na tempestade... veja bem" repetia com a sua amabilidade "que não saia da boca o cérebro que você tem!" Com um jeito espontâneo e amável, brusco na maneira de se expressar, mas era com se uma pequena nuvem passasse na frente de um astro luminoso. (Zanon, 1946 p. 104-105)
Padre Antônio no meio dos jovens parecia São Felipe Néri, de caráter amável, atraente e encantador, segundo as palavras de um congregado o padre Paoli. Era uma coisa só vê-lo e sentir necessidade de amá-lo e de se fazer perto dele para ouvir suas palavras que desciam no coração, fecundante como o orvalho, e doce como o balsamo. Sua postura era sempre sorridente, e os jovens demonstravam vivo amor, com amorosa reverência ao mestre, assim o chamavam no início da obra. id
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Para ele o principal dever da educação Cavanis consiste em dar assistência aos alunos, nos momentos de recreação, nessa hora em que colocam todas as suas energias nos jogos para divertirem-se, nessa hora cheia de espontaneidade e
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vivacidade, justamente porque nesse momento se pode conhecer mais depressa o caráter das crianças e dos adolescentes.
Padre Antônio era sempre pronto em receber os adolescente e dividi-los em grupos com os respectivos coordenadores. (Zanon, 1946 p. 105)
Padre Marcos passeava, observava, estudava. Ele parava em um ponto ou em outro, animando os adolescentes com vivacidade. Com um olhar chamava atenção dos mais indisciplinados: fazia-se presente animando a torcida.
Tinha o sentimento de que de 10 palavras, nove podiam ser perdidas, mas a décima cairia num terreno bem disposto, para fazer raiz.
Padre Marcos recomendava de confiar pacientemente no bom êxito da educação cristã, também quando desanimados, ou acreditando que se tivesse perdido tudo ou todo o cansaço que se tinha empregado: "Não é verdade que tudo se perde quando se joga água na peneira, porque não se pode negar que a peneira fica molhada". Ibid., p. 106
Padre Antonio foi oficialmente superior da congregação até 1852, quando se demitiu no dia 5 de julho, diante do patriarca Aurélio Mutti, passando seu encargo para o padre Vittorio Frigiolini.
Por volta dos anos de 1850-51, as energias dos irmãos foram decaindo e os últimos anos, cheios de sofrimentos físicos. Padre Marcos a partir de 1851, começa a manifestar uma enfermidade mental que foi se agravando rapidamente quando em 1852 ele já apresentava estar fora da realidade cotidiana, mas só em janeiro de 1853 padre Casara começou a falar de sua confusão mental. Em 11 de outubro de 1853, morreu o padre Marcos. (POSITIO, 1979, p. LIV)
No dia 12 de março de 1858, aos 86 anos, padre Antônio dá sinais de que está prestes a se encontrar com irmão, recebe as indulgências e os últimos sacramentos. Padre Casara pede que abençoe a todos os filhos próximos e distantes. Ele o faz, terminando a dizer três vezes "Amém, Amém, Amém". (SANTA CRUZ, 1993, p.111)
"A obra a que nos dedicamos provoca conflitos entre o caminho do bem e o caminho do mundo, portanto precisamos de maneira especial do Espírito de Fortaleza.
(Pe. MARCOS CAVANIS 08/12/1841)
APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
Num primeiro momento fica uma incógnita muito peculiar. O que vem a ser Pedagogia Cavanis (PC)?
Pedagogia palavra grega
paidas aghein, que significa conduzir os adolescentes. Conduzir para onde? Conduzir a todo desenvolvimento do homem incipiente que é o adolescente, que ainda não conhece esse mundo; do adolescente que abre seus olhinhos transtornados parta o universo; do jovenzinho que se apresenta com a esperança primaveril de cada bem mais amável; do adolescente que começa a lutar; do jovem já crescido que está para entrar na vida. ZANON, (1946 p.7)
Entende-se pedagogia como teoria da educação. O termo teoria dentro da filosofia é entendido como atividade da contemplação e o termo educação vem do latim [
educare, educere] em cujo a raiz está [dux] chefe, general, educar seria conduzir alguém para determinado objetivo, como um general conduz uma guerra em busca da vitória, processo conduzido de fora. Mas o termo educação no seu sentido morfológico significa tirar para fora, trazer à luz e fica muito bem relacionado a imagem socrática [maieutica].
Educar. Cavoucar. Chamar o outro. Cavoucar das potências do homem tudo aquilo que pode dar de bom: trabalho progressivo que nos permitirá obter de um frágil fantoche um homem válido e virtuoso.id.
O "eu", que representa a vontade consciente ou a liberdade de decidir, tem de ser treinado para tornar-se líder e não um fantoche. CURY, (2003, p.30)
Educar. Tirar fora. Cortar tudo o que é defeituoso. Cortar tudo aquilo que é prejudicial, restará o homem perfeito; por quanto de perfeição se possa falar nessa pobre vida humana daqui, domínio da fragilidade e de tantas miséria. ZANON, (1946 p.8)
Educar não é repetir palavras, é criar idéias, é encantar. CURY, (2003, p. 34)
Sendo assim Pedagogia Cavanis é a sistematização teorética da práxis educativa Cavanis, desenvolvida entre o final do século XVI e início do século XVII na republica de Veneza na Itália, por Antônio e Marcos, sacerdotes seculares, mais conhecidos como Irmãos Cavanis e que fundaram a Congregação das Escolas de Caridade.
Alfabetizar-se não é aprender a repetir palavras, mas a dizer a sua palavra. (...) Aprender a dizer a sua palavra é toda a pedagogia, e também toda a antropologia. FREIRE, (1987, p. 18)
É necessário, portanto uma pedagogia, ciência e arte contemporaneamente; também um apanhado de cognição logicamente coligadas em relação com a verdade( é por isso que a pedagogia é um ciência); também uma habilidade experimentada para obter o objetivo ao qual se destina (é por isso que a pedagogia verdadeira é uma arte, uma arte preciosa, mais nobre de todas as artes). ZANON, (1946 p.8)
Ensinar não é transferir a inteligência do objeto ao educando mas instigá-lo no sentido de que, como sujeito cognoscente, se torne capaz de inteligir e comunicar o inteligido. (FREIRE, 1996, p. 119)
A pedagogia Cavanis surge com o desejo de suprimir uma carência de afeto e educação que vive as crianças e jovens do século XVII na cidade de Veneza. Alvorece como luz educativa dentro do período iluminista e tem em seu interior contribuições de saberes e valores históricos de sua época. E que ainda hoje se faz convidativo para uma intensa meditação. A centralidade desta Pedagogia Cavanis encontra-se no homem.
Se não posso, de um lado, estimular os sonhos impossíveis, não devo, de outro, negar a quem sonha o direito de sonhar. Ibid., p. 144
A partir de uma peculiar e singular intuição pedagógica os Irmãos Cavanis apresentam como paradigma de seu projeto educativo o próprio Cristo através de alguns tópico, próprios de sua pedagogia: a paterna vigilância, a formação do
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coração, o horto ou recreios sadios, o oratório e a pratica de exercícios espirituais para crianças e jovens.
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Um excelente educador não é um ser humano perfeito, mas alguém que tem serenidade para se esvaziar e sensibilidade para aprender. (CURY, 2003, p. 17)
Segundo os Irmãos Cavanis, tem de ser uma pessoa capacitada em abundância de todos os bens espirituais e naturais que seu trabalho deve desenvolver nos alunos que lhe foram confiados. Saúde física, necessária para poder suportar o cansaço que o trabalho educacional exige. Deve ser intelectualmente capacitado de cultura sólida e ampla; isso de acordo com o grau da escola que atua. Sobretudo enamorado da virtude e da vida cristã, porque deve falar daquilo que vive no concreto, com os alunos num ambiente cristão. (ZANON, 1946 p.12)
O educador democrático não pode negar-se o dever de na sua prática docente, reforçar a capacidade crítica do educando, sua curiosidade, sua insubmissão. (FREIRE, 1996, p.26)
Para os irmãos Cavanis a escola era entendida como um desenvolvimento futuro, que marca e dá ao educando dignidade, instrumentos e condições para o seu crescimento intelectual, moral e religioso para o bem da sociedade.
A prática educativa tem de ser, em si um testemunho rigoroso de decência e de pureza. Ibid., p.33
Uma das coisas mais importantes na educação é levar um filho a admirar seu educador. CURY, (2003, p. 37)
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A Escola Cavanis destaca-se das outras escolas de sua época por ser inteiramente gratuita, nela estudavam juntos tanto o pobre como o rico e ambos partilhavam da mesma gratuidade. Os Irmão Cavanis, foram exigentes quanto a esse princípio e sofreram perseguição por parte do governo que exigia de todas as escolas tachas e impostos bem como títulos que permitissem o seu funcionamento.
Nas Constituições e Normas da Congregação das Escolas de Caridade, escritas pelo Padre Antônio diz que os congregados devem: Acolher com amor paterno, meninos e jovens, educá-los gratuitamente, protegê-los com vigilância
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solícita, formá-los dia a dia na inteligência e na piedade, favorecer com ajudas particulares os mais pobres, sem poupar gastos e fadigas, de maneira que eles alcancem a estatura da plenitude de Cristo e possam dar sua contribuição para o crescimento da Igreja e para o bem da sociedade. (Const. 4b)
Somente em 1807, foi feita uma experiência que não durou nem um ano, de alguns alunos darem uma pequena contribuição mensal, esse contribuição era destina às despesas mais urgentes da escola e esse fato não ser repetiu nunca mais.
Dê de 1810, no regulamento disciplinar da escola dos Cavanis, vem colocado quase com as mesmas palavras das constituições já citadas de uma escola totalmente gratuita: Nenhuma família que tinha crianças ou jovens em suas escolas deveria corresponder com algum donativo. O mesmo valia para o Instituto Feminino fundado em 1808.
O principio da escola gratuita é o nosso tesouro espiritual e pedagógico. Dos escritos dos nossos padres, que a nós chegaram e da constante tradição, nos afirmam que verdadeiramente esse é um dos fundamentos da nossa congregação, e como tal é verdadeiramente uma marca do nosso espírito religioso (a gratuidade).
Tesouro espiritual porque faz parte do nosso voto de pobreza religiosa, a qual confere uma espiritualidade característica na renuncia e no desapego completo também dos desejo das coisas materiais., não só da parte do indivíduo mas também da parte do instituto, que de tal maneira com reta intenção se sente dedicado somente a glória de Deus e a salvação das almas em todas as suas atividades. Com esse espírito de pobreza o instituto tem diante de si um bonito exercício de fé em Deus e de abandono a sua divina providência em tudo aquilo se refere a sua constituição econômica. ZANON, (1946 p. 39-40)
Os padres deixaram como herança aos seus congregados um estado de pobreza, que mesmo nascendo na riqueza, praticaram constantemente até sua morte.
Nesse estado de pobreza não renunciaram ao principio da educação gratuita, mesmo nos momentos mais difíceis de sua história.
A meta das Escolas de Caridade é de oferecer o benefício da educação cristã aos pobres; mas não somente a esses, porque eles se sentiriam envergonhados de mandarem os próprios filhos para essa escola e a finalidade da dela ficaria sem resultado. Portanto, junto com os patrícios descentes dos Doges, se encontram na mesma sala também os filhos dos pobres, dos operários, e não ocorreu na mente de alguém, nem dos mestres nem dos alunos de fazer diferença entre eles. (ZANON, 1946 p. 41)
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A presença contínua do educador pai e a proximidade com os educandos proporcionam no grupo o clima de família, lugar de escuta e diálogo.
Também hoje esse preceito de não fazer acepção de pessoas continua sendo necessário, ainda mais quando na sociedade se vive a era do descartável, do efêmero.
Mais sério e urgente nesses tempos encontram-se os relacionamentos interpessoais que sem profundidade tornam-se descartáveis e conseqüentemente inseguros. A vida jovem que dia a dia recebe uma avalanche de informações e não encontra forma de relativizar, corre perigo, par isso essa pedagogia vem como um resgate do relacionamento confiante e libertador
Pais e filhos vivem ilhados, raramente choram juntos e comentam sobre seus sonhos, mágoas, alegrias, frustrações. CURY, (2003, p. 12)
A Pedagogia Cavanis continua em sua essência sendo uma resposta ao mundo que grita pela boca da criança incompreendida e abandonada, do educador calejado e cansado, dos pais que não conhecem mais seus filhos.
Os Cavanis tem o dever de exercitar em cada lugar onde se encontra sua missão: escolas externas, internatos e também outras especializações de qualquer forma que for educativa; e obriga sempre em qualquer ocasião, de recusarem firmemente qualquer presente que venha por parte de sua missão.
Regras severas, se quisermos, mas que nos liberta de uma multidão de preocupações materiais e nos torna ágeis no Espírito daquela desenvoltura que nossos fundadores chamam de Liberdade do Humanos respeitos. Que é semelhante aquela da qual o apóstolo nos fala com alegria "Que a liberdade de Cristo nos liberta" (At 20) Zanon, (1946 p. 41)
Para poder entender a pedagogia dos irmãos Cavanis em toda a sua beleza e espiritualidade é necessário libertar-se no terreno pedagógico da materialidade de qualquer recompensa humana, é por isso que a congregação recebe o nome de Escolas de Caridade, porque o seu título deve ser o da Caridade.
A escola se faz por Caridade gratuita e, sobretudo porque essa foi a dedicação de toda a vida dos Cavanis. Foram conduzidos pela graça divina e amaram a Deus com todo o seu coração com toda a sua alma, com toda a sua mente com todas suas forças reconhecendo em cada criança, como diria São José de Calazans, o rosto escondido de Cristo. (Zanon, 1946 p. 47)
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Esse dois irmãos pensavam somente na juventude, falavam só da juventude, respiravam só para a juventude: juventude para educar, juventude para preservar, juventude para salvar.
E tudo isso humildemente, sem buscar o reconhecimento desse mundo, sem ciúme dos outros que também se dedicavam a essa mesma missão, e manifestavam alegria e amizade com esses. (Zanon, 1946 p. 49)
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A gente só conhece bem as coisas que cativou. SAINT-EXUPÉRIY, (2004, p. 69)
"...Alimentar sempre mais uma particular ternura para com a juventude, a isso levados pelo gosto que se proporciona para Deus, que a ama com uma afeição especial, e pelo grande bem que a ela se proporciona nos empenhando em defendê-la de tantas insídias e proporcionando-lhe grande ajuda para voltar ao bom caminho se por desgraça tiver caído nas malhas dos inimigos espirituais. Ternura que leve a fazer com que os jovens abram seus corações aos mestres e se tornem disponíveis para acolher com respeito as palavras e a seguir docilmente os seus ensinamentos. Este amor paterno para com os jovens requer principalmente
A
A
Finalmente, a
vigilância, solicitude, paciência, esperança de frutos e oração. São cinco atos de virtude e que custam sacrifícios, mas podem ser feitos com boa vontade pensando em fazê-los em honra de cinco chagas de Jesus Cristo. Ele é nosso exemplo, e nós faremos infinitamente menos que Ele, e não chegaremos a sofrer com tudo isso nem a dor de uma chaga. vigilância poderemos usá-la em honra das duas chagas das sagradas mãos de Jesus Cristo, que nos lembra com quanta cautela e constância se devem usar as mãos que se destinam para um trabalho tão delicado e precioso. fortaleza e a coragem que brotam da esperança, poderão ser oferecidas em honra das duas sagradas chagas dos pés, que acompanhados por tais virtudes, nos levam à vitória no meio das mais árduas dificuldades. oração produzida pela caridade para com os jovens pode ser oferecida em honra da chaga do sagrado lado de Jesus Cristo, que abre para todos o ingresso àquele coração divino que se fez para todos nós vítima de amor". (Pe. Antonio A. Cavanis, comentário da Const. 3).
Os filhos não precisam de pais gigantes, mas de seres humanos que falem a sua linguagem e sejam capazes de penetrar-lhes o coração. CURY, (2003, p. 19)
P. Marcos expõe o espírito das Escolas de Caridade dizendo: "De índole totalmente diferente das escolas públicas; onde tudo leva ao afeto paterno e tende a formar em todo o corpo escolar uma só família, também os alunos são vistos como muitos filhos". Zanon, (1946 p. 53)
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O MÉTODO
O método dos irmãos Cavanis não é certamente estudado teoricamente como se fosse enrijecido é pois aplicado através de tentativas e experimentos até encontra o caminho definitivo.
A alegria não chega no encontro do achado mas faz parte também do processo da busca. FREIRE, (1996, p. 142)
Respeitando o princípio do acompanhamento personalizado da grande importância em ver o educando como sujeito individual e que toda pessoa em sua essência tem uma índole boa. (Zanon, 1946 p. 55)
Os jovens conhecem cada vez mais o mundo em que estão, mas quase nada sobre o mundo que são. CURY, (7 ed. 2003, p.15)
O método de São José de Calasanz foi escolhido como método pedagógico dos dois irmãos Cavanis. É quase supérfluo observar que o método de Calasanz é o método de Sto Agostinho, de S. Bento, de S. Tomás, de S. Inácio, de S. Felipe, de S. Gerônimo Emiliani, de Sto. Antonio Mª Zacaria, de S. João B. della Salle e depois dos Cavanis, de São João Bosco e de uma multidão de santos educadores que vieram em seguida. op. cit., p. 56
Característica e distintiva do método Cavanis: "A mais santa paternidade, familiaridade e a mais interminável vigiLância. Ibid., p. 57
Hoje em dia, ninguém pode pensar adquirir, na juventude bagagem inicial de conhecimentos que lhe baste para toda a vida, porque a evolução rápida do mundo exige uma atualização contínua dos saberes. (DELORS, 2003, p.245)
A consciência não se encontra no vazio de si mesma, pois a consciência é sempre, radicalmente, consciência do mundo. FREIRE, (1996, p. 15)
4.1 VIGILÂNCIA CONTÍNUA
Se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. SAINT-EXUPÉRIY, (2004, p. 68)
A escola dos Cavanis não é fim em si mesma, ela é um meio do qual se serve a Caridade deles, para poder aproximar-se da juventude e salvá-la. Salvá-la fazendo-a amar a ela, e com vigilância contínua para preservá-la dos perigos: Nisto
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é que está a originalidade da obra deles, a característica do seu método educativo. Os irmãos Cavanis perceberam que as escolas que tinham distância os mestres com os alunos poderiam ensinar a ciência, mas não formar o coração. Perceberam também que poderiam dar os preceitos de religião de moral e isto é ótima coisa, mas não é suficiente para formar a virtude no animo juvenil, que precisa ser continuamente vigiado dos perigos que o circundam. (Zanon, 1946 p. 59)
Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. SAINT-EXUPÉRIY, (2004, p. 72)
Será vão espera a almejada reforma, se se ignora de cultivar como convém a juventude. Digo como convém, porque não basta fazer qualquer coisa para os jovens, (porque isso se faz em qualquer lugar) mas convém providenciar os meios necessários para conseguir o fim. Zanon, (1946 p. 59)
As práticas da Congregação mariana foram: piedosas reuniões, leituras espirituais, palestras, freqüência aos sacramentos, exortações sobre as regras e estatutos. Se esses encontros não questionam os jovens não valem pra nada, mas se são fervorosos são como uma benção.
Paulo Freire em seu livro Pedagogia da Autonomia, no terceiro capítulo; Ensinar é uma especificidade humana, dentro do subtítulo: Ensinar exige querer bem aos educandos, conclui: "Jamais foi fraca em mim a certeza de que vale a pena lutar contra os descaminhos que nos obstaculizam de ser mais". FREIRE, (1996, p. 145)
As práticas dos cavanis eram cheias de amor à Virgem por e meio dela ao seu Divino Filho. O primeiro alimento recebido era uma pregação do P. Antônio repleta de espiritualidade. Que atingia ao coração dos jovens e os levava a sentirem desejo pelas coisas espirituais sem se cansar. Com o mesmo estilo P. Marcos fazia suas exortações.
P. Marcos com quase oitenta anos e quase cego fez sua última pregação na festa de Nossa Senhora do Carmo, no ano de 1853, nem faltava três meses para sua morte.
Quando jovem antes de ser padre, ele exerceu a função de coordenador ajudando seu irmão com grande eficácia. Sua fervida caridade, confiança e
4.2 CONGREGAÇÃO MARIANA
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docilidade para com os filhos espirituais: Ele procura os pequenos, acariciava, mimava, ensinava a falar e divertia-se com eles. Com os maiores mudava de postura, mas sempre os acolhia alegremente, vigiava, exortava, aconselhava e os alegra com frases espirituais, era um verdadeiro amigo dos jovens. (ZANON, 1946 p. 65)
Os filhos não precisam de gigantes, precisam de seres humanos. CURY, (2003, p. 26)
4.3 CATEQUESE
O método que utilizavam para a catequese era de formar pequenos grupos de 8 a 10 crianças para instruí-los em casa 1 hora por dia durante 1 mês, auxiliados por outras pessoas que provavelmente eram a mãe a condessa Cristina e a sua irmã Apolônia, que faziam uma simples, afetuosa e fervorosa instrução. Depois de 1 mês cada jovem era chamado para uma avaliação individual e demonstrar o que tinha aprendido. Assim os padres levam o jovem a conhecer com maior interesse a força das verdades cristã, e inspirava neles um vivo amor para com o cristianismo.
4.4 HORTO (RECREIO)
O elemento pedagógico fundamental que eles utilizavam para alternar a educação da fé era o momento de recreação num espaço chamado de
Quando se trata de crianças e de jovens é preciso organizar harmoniosamente com a espiritualidade e espontaneidade a diversão que na primeira idade é fisiologicamente e moralmente imprescindível.
Os antigos diziam:
Distrair-se, contato com a natureza, alegria e expansão da alma no exercício físico da mais sã potencialidade natural, são esses, meios educativos que regulados na dose de uma sábia direção, se pode integrar com a espiritualidade e tornar bons os nossos jovens.
Orto (Horto). Mens sana in corpore sano, uma mente sadia num corpo sadio. 51
Nota-se que no conceder esse respiro a juventude, não é necessário chegar a aquele exagero de brincadeiras de exercício violentos e sem limites, mas a serenidade da vida em meio ao verde de um terreno cultivado que precisa se respeitar e não destruir.
Observa-se nesse particular um ponto de educação que leva a formar dês de o início, nas crianças e adolescentes, aquele domínio de si mesmo, que somente com a educação dirigia e vigiada pode ser obtida. ZANON, (1946 p. 66-67)
Um cuidado constante com o organismo e em bom funcionamento faz parte do aprendizado intelectual. Iluminação suficiente, oxigenação do sangue, irrigação cerebral facilitam o exercício da mente. (LIBANIO, 2002, p.40)
Pais brilhantes não formam heróis, mas seres humanos que conhecem seus limites e sua força. CURY, (2003, p. 32)
Os jovens eram levados ao horto nos dias festivos, após as orações e a missa. Voltavam ao horto todos os dias após o almoço antes das orações da tarde, e nos dias de férias. E assim brincavam, se divertiam, conversavam familiarmente com os padres, abriam-se candidamente (inocentemente) como se fossem seus filhos e abasteciam-se espiritualmente. Entre os congregados se cultivava uma santa amizade e todos aproveitavam dos bons exemplos de seus companheiros.
Não se ia ao horto sem breve oração, tanto no início como no término das recreações. Constatou-se que as crianças quando iam para a igreja ou voltavam para suas casas eram verdadeiramente restauradas no corpo e no espírito.
Os padres sempre atribuíram grande importância à recreação no horto, e fizeram grande esforço e sacrifício para podê-lo conservar e desenvolver. (ZANON, 1946 p. 67)
Hoje percebe-se que os pais trabalham para dar o mundo aos filhos, mas se esquecem de abrir o livro da sua vida para eles. CURY, (2003, p. 22)
Durante os recreios os padres faziam com que as crianças se sentissem desembaraçadas e alegres para darem uma boa dose de ensinamentos morais e espirituais aos seus companheiros através dos diálogos que eram apresentações teatrais ou jograis escritas geralmente pelo p. Marcos e apresentada nas quinta-feira por quatro crianças no horto. Por exemplo: sobre as mentiras, ou amizade, ou responsabilidade. Com a vivacidade natural das crianças e enfeitada de brincadeiras inocentes que alimentavam a atenção, se desenvolvia de forma simples mas profunda, o tema de um grande sermão. Esses ensinamentos tocavam profundamente o coração dos alunos que conservavam até a velhice. op. cit., p. 68
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4.5 ORATÓRIO
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INSTITUTO FEMININO
Por juventude, deve-se compreender também as meninas, porque não se pode esquecer que o cuidado dos padres Cavanis foi desenvolvido por mais de 40 anos a partir de 1808, recolhendo também as meninas do povo em uma escola de caridade, e a mais abandonadas eram encaminhadas para um internato aos cuidados de piedosas mulheres sob a direção dos servos de Deus, que providenciavam a manutenção também dessa obra. Tudo gratuito, e com os mesmos métodos que utilizavam com os meninos. (apud. Espírito e Finalidade, 1969, p. 192)
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Além da formação intelectual e religiosa, após a escola os irmãos Cavanis, viram que era necessário que os alunos se dedicassem a uma profissão. Oferecendo um novo refugio para a juventude. Iniciaram em (.....), uma oficina tipografia, dando uma sala das escolas contratando um tipógrafo. id
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"Quanto mais se percebe o alcance de nosso pensamento e de nosso agir, maiores responsabilidades assumimos". LIBANIO, (2002, p.46)
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A perfeita instrução dos jovens é composta de dois elementos: educação propriamente dita e instrução.
A educação comporta tudo aquilo que guarda a prática da religião, a moralidade e leva a formar o coração: a instrução comporta difundir no jovem o conhecimento oportuno que lhe abre o intelecto. Em uma palavra educação contempla o espírito de piedade e a instrução da inteligência.
Portanto a instrução deve olhar mais a piedade que a inteligência, porque entre a instrução a mais importante é o cuidado da alma, esse exige que seja cultivado as virtudes, portanto a inteligência deve iluminar o homem: também é certo que as luzes não são as virtudes. Nem todos são obrigados a serem sábios, mas todos são obrigados a viverem bem.
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A escola deve guardar três coisas: o corpo, a inteligência e o coração; mas esse ultimo é o mais importante e também o mais essencial em uma sábia instituição. De que vale um jovem ser ágil no corpo quando é depravado e corrupto no coração? De que vale que um jovem seja rico de conhecimento quando é corrompido e malvado nos seus costumes? A ciência não unida com a virtude e plantada na religião é vã e perigosa.
Vã porque não satisfaz o dever do homem, que deve ser mais sábio na conduta, que na inteligência. Estime a doutrina, porque é melhor que um homem seja juntamente religioso e sábio do que somente sábio.
A perfeição e a felicidade do homem dependem em tudo da religião e das virtudes, mas nada ou muito pouco da ciência. Deus que quer nosso melhor bem não pede nunca a cabeça a ninguém, mas a todos o coração.
São grandes as diferenças da sociedade atual em confronto com os tempos dos irmãos Cavanis; mas as necessidade das almas são sempre as mesmas, se quisermos obter os frutos que eles obtiveram, os métodos educativos adaptados nos particulares momentos e circunstâncias ou nos singulares momentos históricos, devem ser sempre os mesmos. Ou seja, através de instrução religiosa e do uso freqüente e fervoroso das práticas de piedade. E também num ambiente onde se sente paterna familiaridade, unida com uma grande vigilância por parte dos educadores. (ZANON, 1946 p. 89)
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Escola indisciplinada, escola corrupta.
É impossível que uma escola não tenha um aluno que seja corrupto, daquela corrupção que coloca a alma em desgraça de Deus. E é uma corrupção que pode ser curada com o tratamento caritativo do educador cristão. Se não acontecer esse tratamento vem a explodir num contágio que não se pode reter transformando-se num ambiente indisciplinado. ZANON, (1946 p. 93)
Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo. SAINT-EXUPÉRY, (2004, p. 68)
Tal pensamento por vezes breve mas elementar e de uma evidência teórica e prática tão límpida e universal, para constituir um dos fundamentos mais sólidos e de necessidade imprescindível para um educação verdadeira e completa.
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Se na escola encontra-se um aluno corrupto, é necessário tratá-lo com caridade e amor paterno, sem esquecer da preocupação do contágio. Para que os outros não venham a se contaminar, ou aqueles que já são contaminados adquirem mais corrupção. (ZANON, 1946 p. 94)
O escritor Antonie de Saint-Exupéry, em seu livro: O pequeno Príncipe, escreveu após a raposa ter presenteado o principezinho com o seu segredo: "Foi o tempo que perdeste com tua raposa que a fez tão importante". SAINT-EXUPÉRY, (2004, p. 72)
O educador sempre deve estar atento para impedir cada mal, mas sempre sereno e confiante e tratando com Caridade e nunca demonstrar suspeita dos alunos pois poderiam perder a confiança, a fidelidade e o afeto.
Existem dois tipos de disciplinas: a tirânica, abominável e a amorosa da santa caridade.
A disciplina bonita e suave deriva do sábio amor. Amor porque procura o bem dos educandos amando-os. Sábio porque se o educador é formado na sua missão, com os dotes da experiência, da ciência, da prudência, da delicadeza, da firmeza, em suma com todos os requisitos e prerrogativas da caridade cristã, ele sabe a qual recife oferece o perigo de naufragar a alma que lhe é confiada e aplica o seu cabedal de riquezas humanas e divinas para salvar essa alma e guiá-la através dos perigos presentes e futuros.
A bonita disciplina! É bonita porque produz a concórdia
cor unum et anima uma proveniente do amor consciente e recíproco do educador e educando; amor que produz felicidade; e deixa um temor do educando dar desgosto ao educador e no educador de não oferecer todas as condições para a felicidade do educando. ZANON, (1946 p. 95)
A técnica da bonita disciplina é a vigilância, sobre coisas pequenas, constante, mas paternalmente severa, ou seja: sempre corrigir por menor que seja a falta, para corrigir não custa nada, basta um simples gesto ou aceno; nunca se esquivar de repreender. Tal vigilância exige amor e esperança de frutos, exige acolher cada aluno como filho e sentir-se co-responsável no futuro dele. O nervosismo do mestre é a peste da disciplina. Apresenta fraqueza e fecha a possibilidade de confiança do educando para com o educador.
Bons pais dizem aos filhos: "Você está errado". Pais brilhantes dizem: "O que você acha do seu comportamento?" CURY, (2003, p. 36)
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O horto não servia somente para distanciar as crianças das mas companhias mas para melhor descobrir a índole delas e suas particulares necessidades, para mais facilmente providenciar o remédio apropriado nos vários casos que se achava oportuno. Essa sempre foi a finalidade da Congregação Mariana.
O horto serve para descobri o animo dos jovens e confirmá-los nos bons propósitos se são fervorosos e corrigi-los se são hostis.
Tal estudo do jovem mediante a vigilância foi o método que os cavanis utilizaram em sua carreira de educadores e transmitiram aos seus primeiros religiosos entre os quais o Padre Paoli que relembra a citação do p. Antonio: "Conhecendo que o momento propício para descobrir a índole e os defeitos dos jovens é quando são mais livres, na recreação e também nos jogos inocentes; não podendo mentir nesses momentos espontâneos". (ZANON, 1946 p. 101-102)
A correção é parte integrante da vigilância.
Quem não vigia na repara o defeito dos educando, e depois pode ser tarde de mais para corrigir. Mas quem esta sempre vigiando os defeitos da natureza humana mesmo nas almas mais queridas e bonitas descobre muitos defeitos.
Corrigir não significa maltratar; mas significa que o aluno não se esqueça da correção que é um remédio necessário e oportuno doce ou enérgico de acordo com a sua necessidade. Ibid., p. 108
3º CAPÍTULO
A PEDAGOGIA CAVANIS E A EDUCAÇÃO CONTÊMPORANEA
"O nosso serviço evangélico da caridade libertadora acaba quando acabarem as necessidades e opressões dos pobres e pequeninos
(Pe. MARCOS CAVANIS)
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Esse capítulo visa oferecer uma reflexão sobre a pedagogia desenvolvida pelos Cavanis a mais de 200 anos e a visão holística da educação no século XXI, segundo a Comissão Internacional sobre a Educação no século XXI. Também, visa apresentar Antônio e Marcos cavanis como dois verdadeiros visionários, como duas pessoas que verdadeiramente estivera a frente de seu tempo, sobretudo no campo da educação de crianças e jovens.
A educação cabe fornecer, de algum modo, os mapas de um mundo complexo e constantemente agitado e, ao mesmo tempo, é a bússola que permite navegar através dele.
Não basta, de fato que cada um acumule no começo da vida uma determinada quantidade de conhecimentos de que possa abastecer-se indefinidamente.
Segundo o relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, a educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais, que ao longo da vida de cada indivíduo serão os pilares do conhecimento: APRENDER A CONHECER isto é adquirir os instrumentos da compreensão. APRENDER A FAZER, para poder agir com autonomia, confiante nas potencialidades pessoais; APRENDER A VIVER JUNTO, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas e finalmente APRENDER
A SER, como conseqüência das precedentes. Entre essas quatro vias existem pontos múltiplos de contato, relacionamentos e de trocas.
Uma nova concepção ampliada de educação devia fazer com que todos pudessem descobrir, reanimar e fortalecer o seu potencial criativo, revelando o tesouro escondido que há em cada pessoa.
A educação é o verdadeiro passaporte para a vida. Já dizia no passado o filosofo Kant, em seu livro:
O edifício da educação se sustenta sobre o alicerce profundo e sólido construído nos anos iniciais da formação.
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Eu queria uma escola que cultivasse
A curiosidade de aprender
Que em vocês é natural
(Carlos Drumond de Andrade)
Aprender a conhecer e a pensar é fundamental num mundo de muitas informações e de pouco pensamento.
É inserir todo o conhecimento no varal do passado, percebê-lo na atualidade do presente e vislumbrá-lo em sua densidade de futuro. (LIBANIO, 2002, p. 20)
Mais do que entulhar a mente com dados soltos se faz necessário saber pensar com lucidez, criatividade, liberdade. Seu fundamento é justamente o prazer de compreender, de conhecer, de descobrir. Trata-se de ensinar a arte e a aptidão para a problematização.
"Educação inclui quanto fazemos nós mesmos por nós e fazem por nós os demais, com o fim expresso de aproximar-nos da perfeição de nossa natureza" STUART MILL, (apud Enciclopédia Espasa-Calpe)
Para aprender a conhecer e a pensar, é necessário aprender a contextualiza, ou seja: comparar, relacionar, confrontar para saber relativizar e perceber que cada conhecimento pertence a um conjunto e situa-se em determinado contexto. A maneira mais cômoda contrária ao conhecimento objetivo das coisas é a generalização. Cômoda porque não exige reflexão e não refletir é embrutecer-se.
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Esse tipo de aprendizagem que visa não tanto a aquisição de um repertório de saberes codificados, mas antes o domínio dos próprios instrumentos do conhecimento. (DELORS, 2003, p. 90)
Segundo Laurent Schwartz, citado por Delors: "Um espírito verdadeiramente formado, hoje em dia, tem necessidade de uma cultura geral vasta e da possibilidade de trabalhar em profundidade determinado número de assuntos".
Hoje e cada vez mais se recebe uma grande enxurrada de informações de todos os tipos e lugares, segundo o padre Libanio, no início de seu livro a arte de formar-se, descreve: "Quanto mais os
O desafio hoje é evitar, de um lado, uma sistematização apressada, rígida, acabada e de outro, um mero aglomerado de unidades. (LIBANIO, 2002, p. 37)
"A educação só consegue bons resultados quando se preocupa em gerar experiências de aprendizagem, criatividade para construir conhecimentos e habilidade para saber acessar fontes de informações sobre os mais variados assuntos." ASSMANN, H.(1998, p.21)
Aprender a conhecer dito de maneira mais simples é a pessoa considerar-se uma ilha num arquipélago: para não ficar perdida e isolada, constrói quanto mais pontes possíveis para as outras ilhas, a ponto de perceber-se ao final numa rede maravilhosa de relações de saber. op cit., p. 22
Ensinar a pensar nesse ponto de vista é encontrar-se em realidades exteriores a si, como através da leitura de obras literárias, identificar-se com elas, ou através da leitura dos pensadores, tirar as próprias conclusões. Nesse caso o ato de ler torna-se um privilégio porque a leitura age como pontes incontáveis de contatos com a história escrita.
Dentre as realidades exteriores a si encontram-se o mundo das coisas e objetos que são apreendidos através dos sentidos. As coisas educam o sentido de observação através de estímulos artificiais e virtuais, com isso a maior lição que o homem pode tirar das coisas é a faculdade de contemplar.
"Tudo é caminho, e cada ser se faz sacramento e porta para o encontro com Ele". BOFF,L. (1996, p. 45)
Só sabe conhecer e pensar quem aprendeu a contemplar (...) aprender a conhecer e a pensar é modificar sua atitude diante das coisas. op cit., p. 27
sites e as home pages se multiplicam, tanto menos as inteligências se sabem organizadas, estruturadas, bem-feitas". LIBANIO, (2002, p. 10) 60
Pensar é analisar e sintetizar, separar e unir. O aluno tem de aprofundar cada uma das afirmações para descobrir a verdade própria e a possibilidade da contrariedade. A arte de pensar se desenvolve pela capacidade de relação. Por isso hoje falar de educação é falar de holismo, ou visão holística.
Segundo Boff, ecologia representa a relação, a interação e a dialogação que todos os seres (vivos ou não vivos) guardam entre si e com tudo o mais que existe. Dessa forma se depara sempre com uma síntese que ordena, organiza, regula e finaliza as partes num todo e cada todo com um outro ainda maior. A ecologia é como a ciência e a arte das relações e dos seres relacionados. (BOFF,L. 1996, p. 17-19)
Não é apenas uma parte que esta no todo, mas o todo está inscrito na parte.
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Aprender a fazer e aprender a conhecer são indissociáveis.
Nesses dias uma pergunta desperta e incomoda aqueles que têm a missão de educar, de preparar os cidadãos do futuro: Como ensinar o aluno a por em prática os seus conhecimentos e, também, como adaptar a educação ao trabalho futuro quando não se pode prever qual será a sua evolução?
Aprender a fazer não pode, pois, continuar a ter o significado simples de preparar alguém para uma tarefa material bem determinada.
As aprendizagens devem evoluir e não podem mais ser consideradas como simples transmissão de práticas mais ou menos rotineiras, embora essas continuem a ter um valor formativo que não é de desprezar.
Aprender a fazer influencia aprender a conhecer.
A prática modifica o conhecimento, e este, por sua vez, gera sempre novas práticas, daí os contínuos cursos de atualização profissional. Para cada nova máquina novo curso.
As exigências do mercado de trabalho nesses dias não são mais as do mundo taylorista, fordista, que o cineastra inglês Ch. Chaplin (1889-1977) ridicularizou em seu filme "Tempos Modernos" (1936).O operário aprendia um procedimento e o repetia interminavelmente. Assim para cada caso se fazia necessário um aprendizado específico.
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Novos conhecimentos modificam o fazer, e novas práticas provocam reestruturação de conhecimentos.
Hoje em pleno século XXI, as exigências são outras. O baixo nível de escolaridade dificulta que as pessoas ultrapassem as fronteiras do puro aprendizado repetitivo. E essas pessoas são encaminhadas por trilhas mais criativas como o mercado informal.
Os Irmãos Cavanis, em seu tempo, desde cedo, incorporaram a escola a profissionalização, e como não tinham de maneira certa para onde estariam encaminhando seus jovens, prepararam-nos na autonomia, no reconhecimento de suas potencialidade, e auto-estima. Fizeram os jovens entenderem que todo trabalho, por mais material que seja, é intelectual.
Os Cavanis estiveram à frente de seu tempo, preparando os jovens para a sociedade e todas as responsabilidades que deveriam desempenhar nela.
Hoje, 200 anos depois, a tendência do mercado é incorporar sempre mais conhecimento ao trabalho. Sobretudo quando a força de trabalho se torna cada vez mais intelectual e virtual como no setor de serviços.
"O desenvolvimento dos serviços exige, pois, cultivar qualidades humanas que as formações tradicionais não transmitem, necessariamente e que correspondem à capacidade de estabelecer relações estáveis e eficazes entre as pessoas". DELORS, (2003, p. 95)
"Exige-se que se pense a educação olhando para o futuro trabalho na sociedade" (...) "A relação entre estudo e trabalho não pode ter a curteza de vista do emprego de amanhã, mas deve ser pensado ao longo alcance". LIBANIO, (2002, p. 50 e 52)
As qualificações trabalhistas nesses dias basicamente são: o comportamento social como a capacidade comunicativa do trabalhador, sua aptidão para trabalhar em equipe e com outros, seu espírito de iniciativa, capacidade de gerir e de resolver conflitos e o gosto pelo risco.
Segundo o relatório Delors, para a UNESCO: "A intuição, o jeito, a capacidade de julgar, a capacidade de manter unida uma equipe não são de fato qualidades, necessariamente, reservadas as pessoas com altos estudos". O relatório continua com uma pergunta que pode encontrar uma resposta na experiência desenvolvida pela Pedagogia Cavanis ao longo de dois séculos. "Como e onde ensinar estas qualidades mais ou menos inatas?"
62
É fundamental pensar que, na prática da formação docente, o aprendiz de educador assuma que o indispensável pensar certo não é presente nem se acha nos guias de professores, que iluminados intelectuais escrevem, o pensar certo que supera o ingênuo tem que ser produzido pelo próprio aprendiz em comunhão com o professor formador. (FREIRE, 1996, p. 38)
Eu queria uma escola que lhes
ensinassem a pensar, a raciocinar,
a procurar soluções.
Eu queria uma escola que desde cedo
usasse materiais concretos para que
vocês pudessem ir formando
corretamente os conceitos
matemáticos, os conceitos
de números, as operações...
usando palitos, tampinhas,
pedrinhas... só parcariinhas!
fazendo vocês aprenderem
brincando...
(Carlos Drumond de Andrade)
3
APRENDER A CONVIVER
A convivência pede em primeiro lugar tolerância.
O lugar de aprender a conviver são naturalmente as experiências de vida em grupo, em equipe, em comunidade, a começar pela família.
Os Cavanis encontraram no horto a arte de desenvolver nas crianças o desejo de conviver e se respeitarem, partilhando a vida, se amadurecendo afetivamente e reconhecendo-se como gente.
A educação seja ela dada pela família, pela comunidade ou pela escola, deve antes ajudar os educandos a descobrirem-se a si mesmo. (DELORS, 2003, p. 98)
A educação segundo o relatório Delor, deve usar duas vias complementares: a descoberta progressiva do outro e a participação em projetos comuns. A educação tem por missão, por um lado transmitir conhecimentos sobre a diversidade da espécie humana e, por outro, levar as pessoas a tomar consciência das semelhanças e da interdependência entre todos os seres humanos do planeta. Ibid., p. 97
Um tipo de deturpação da experiência comunitária dos jovens comum hoje caracteriza-se pela busca de pequenos grupos afins.
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Criam-se "tribos", em que suprimem as diferenças para viverem uma mesmidade que não questiona.
Esses grupos exercem sobre os membros tal influência numa única direção que os tornam ineptos para viverem noutra situação social. (LIBANIO, 2002, p. 64)
No interior de uma minoria fechada, criam-se dois tipos doentios de relação: anulamento e imposição. id
.
A educação deve, pois, reservar tempo e ocasiões suficientes em seus programas para iniciar os jovens em projetos de cooperação tais como: Teatro, coral, bandas de música, esporte de equipe, religião, proporcionando momentos de celebração comunitária e estimular os jovens na participação de atividades sociais.
A educação nessa ótica do aprender a conviver dispõe de muitas possibilidades de formar os jovens no espírito comunitário com a ajuda vigilante do educador.
O educador precisa propiciar aos jovens experiências de convívio e dentro delas, refletir com eles sobre sua conduta.
Seu olhar crítico deve orientar-se numa dupla direção observando tanto os defeitos, falhas, os limites, como as qualidades, as habilidades que os jovens revelam na experiência de grupo. (LIBANIO, 2002, p. 71)
Essas experiências em grupo citadas por Libanio, já forma apresentadas nos métodos pedagógicos desenvolvidos pelos cavanis e se encontram na página 52 dessa pesquisa.
4
Augusto Cury, em seu livro Pais Brilhantes, Professores Fascinantes, quando orienta os pais para nutrirem a personalidade dos filhos apresenta o seguinte pensamento: "Prepare seu filho para ‘ser’, pois o mundo o preparará para ‘ter’". (CURY, 2003, p.29)
Esse quarto pilar vem casar com o tema e a finalidade desse trabalho monográfico. Os Irmãos Cavanis preocuparam-se com a formação integral do homem, isso em vista do corpo e da alma. O relatório Delors concluiu que:
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"a educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa – espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade. Todo o ser humano deve ser preparado, especialmente graças à educação que recebe na juventude, para elaborar pensamentos autônomos e críticos e para formular os seus próprios juízos de valor, de modo a poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes circunstâncias da vida". DELORS, (2003, p. 97)
O pedagogo jesuíta François Charmot, já falava de formação integral do homem dentro do contexto do humanismo. Seu pensamento foi retomado e aprofundado por J. Maritain (1882-1973), que escreve sobre o Humanismo Integral, obra de 1936, citada por Libanio
"O humanismo tende essencialmente a tornar o homem mais verdadeiramente humano e a manifestar sua grandeza original fazendo-o participar de tudo o que pode enriquecer na natureza e na história; ele exige ao mesmo tempo, que o homem desenvolva as virtualidades nele contidas, suas forças criadoras e a vida da razão, e trabalhe por fazer das forças do mundo físico instrumento de sua liberdade" (J.Maritain, citado por LIBANIO, 2002, p. 80-81)
Hoje se pede uma compreensão mais ampla do ser humano, uma nova antropologia, como escreveu Boff:
"O homem constitui-se como nó de relações que atingem a totalidade da realidade. O nosso corpo pode universalizar-se; ele se estende até as estrelas, pode entrar em comunhão com todo o universo dos seres". (O homem como nó de relações, 1971) "A reflexão ecológica ajudou-nos a entender que o ser humano é parte da natureza e da biosfera. Ele não é o centro do Universo". (BOFF. apud. LIBANIO, 2002, p. 83)
Mais do que preparar as crianças para uma dada sociedade, o problema será, então, fornecer-lhes constantemente forças e referências intelectuais que lhes permitam compreender o mundo que as rodeia e comportarem-se nele como atores responsáveis e justos.
A educação, para os Cavanis, não pode ser desenvolvida na vida do homem sem a intenção de levá-lo a encontrar respostas às dúvidas de seu tempo e a compreensão de que ele é um ser em relação com o outro com o mundo.
Mais do que nunca a educação parece ter como papel essencial, conferir a todos os seres humanos a liberdade de pensamento, discernimento, sentimentos e imaginação de que necessitam para desenvolver os seus talentos e permanecerem, tanto quanto possível, donos do seu próprio destino.
(DELORS, 2003, p. 97) 65
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma das tarefas essenciais da pedagogia, desenvolvida e aplicada pelos Irmãos Cavanis é a de ajudar a transformar a interdependência real do homem em solidariedade, ou seja, preparando cada indivíduo para compreender a si mesmo e ao outro, através de um melhor conhecimento do mundo.
Para poder compreender o mundo e suas crescentes complexidades, faz-se necessário antes de adquirir um conjunto de conhecimentos, aprender a relativizar os fatos e a revelar o sentido crítico perante as informações que se recebe todos os dias.
Nesse ponto a educação manifesta seu caráter insubstituível, de formar os educandos na capacidade de analisar e julgar os fenômenos que o cercam.
A compreensão desse mundo passa, evidentemente, pela compreensão das relações que ligam o ser humano ao seu meio ambiente. (DELORS, 2003, p.47)
O mundo todo é uma "aldeia global", onde cada vez mais as distâncias são reduzidas. E isso se dá em grande escala, graças à evolução tecnológica e a uma consciência humanista de que o homem transformador da natureza e ao mesmo tempo dependente dela deve renunciar a herança nociva do passado feita de conflitos e concorrências para abrir-se, a uma nova cultura de convergência e cooperação, numa interdisciplinaridade social, com uma visão de conjunto dos laços que unem homens, mulheres e nações ao meio ambiente.
O planeta a cada ano gira mais depressa, e o regulamento não muda! SAINT-EXUPÉRY, (2004, p. 50)
Cada vez mais torna-se evidente que a sobrevivência da humanidade depende do desenvolvimento de uma consciência mundialista capaz de criatividade e compaixão.
A dimensão espiritual deve estar no centro dessa reflexão sobre educação, e como já foi apresentada, essa dimensão foi e continua sendo o cerne e base fundamental da Pedagogia Cavanis.
O relatório para UNESCO, da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, com o título "Educação um tesouro a descobrir", entre muitas coincidências com a Pedagogia dos Cavanis faz um convite para que sem perda de tempo, sejamos os pioneiros e propagadores de uma filosofia holística da educação para o século XXI.
A educação holística deve ter em conta as múltiplas facetas - físicas, intelectuais, estéticas, emocionais e espirituais – da personalidade humana e tender, assim para a realização desse sonho eterno: um ser humano perfeitamente realizado vivendo num mundo em harmonia. (DELORS, 2003, p.245)
Os irmãos Cavanis ensinaram a seus congregados que a quantidade de recursos necessários para ir ao encontro das crianças pobres tem que ser tão grande quanto as suas necessidades.
O principal serviço que o Instituto Cavanis oferece à Igreja e à sociedade no campo da educação são escolas, casas assistenciais e centros de formação profissional.
Estes possibilitam que o conhecimento que os alunos adquirem do mundo, da vida e do homem, seja iluminado pela fé.
Dessa forma, os educadores Cavanis empenham-se para adequá-los aos tempos e lugares; dedicando-se a eles com todos os recursos da mente e do coração; cuidando da própria preparação mantendo uma abertura em vista de uma constante renovação e adaptação às exigências dos tempos.
Conforme o Projeto Educativo Cavanis, no número 34 o objetivo da Escola Cavanis é a educação do homem na sua personalidade e humanidade, entendido como formação integral do homem, orientado-o livre e eficazmente para Deus, seu fim último, segundo a visão tomista.
Esse objetivo pode ser considerado humanizador por ser personalizado, integrado na sociedade civil, porque prepara os educandos para serem nela protagonistas da paz e promotores de justiça social.
No número 35, do referido documento, a escola ela deve suscitar nos jovens o desejo de buscar a verdade, não só de ordem científica e humana, mas também aquela que dá um sentido último à vida. Todo processo educativo pessoal deve levar o jovem a descobrir o projeto de Deus sobre sua vida.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS
CONGREGAÇÃO DAS ESCOLAS DE CARIDADE. Instituto Cavanis.
CONGREGAÇÃO DAS ESCOLAS DE CARIDADE. Instituto Cavanis.
CONGREGAÇÃO DAS ESCOLAS DE CARIDADE. Instituto Cavanis.
CURY, A.
DELORS,J.
FREIRE, P.
FREIRE, P.
LIBANIO, J.B.
MONDIM, B.
SAINT-EXUPÉRY, Antonie de.
SANTA CRUZ,A. de.
SGARBOSSA,M.; GIOVANNINI,L.
TELLECHEA, Pe. A.
THURSTON,H.J.; ATTWATER,D.
v.I,1984. p.247-253 – Francisco de Sales
v.V,1988. p.237-242 – Felipe Neri
v.VI,1989. p.212-216 – Luiz gonzaga
v.VII,1989. p.180-184 - Vicente
v.VII,1989. p.237-242 (Camilo)
v.VIII,1992. p.231-235 - Calasanz
ANEXOS
O ESPÍRITO DE SÃO FRANCISCO DE SALES
Não espere as mudanças e eventualidades desta vida com medo; antes, encare-as com a firme esperança de que, ao surgirem, Deus, de quem você é filho, o livrará delas.
Só confia nEle e Ele continuará conduzindo você seguramente através de tudo. Onde não puder caminhar, Ele o carregará nos braços.
Não se preocupe com o que pode acontecer amanhã; o mesmo Pai eterno que cuida de você hoje, se encarrega de você amanhã e todos os dias. Ou Ele protegerá você do sofrimento, ou lhe dará a força infalível para suportá-lo.
Esteja em paz, pois, e afaste todos os pensamentos de angústia.
Anime-se e transforme os problemas em matéria para seu progresso e maturidade.
Pense muitas vezes em Nosso Senhor, pois Ele ajudará a suportar os problemas. Todos eles serão incapazes de abalar você, só lembrando-se de que você tem um tal amigo.
Faça tudo com calma e em paz. Realize quanto puder, tão bem quanto for capaz.
Procure ver Deus em todas as coisas sem exceção, e disponha-se a fazer a vontade dEle com alegria. Faça tudo para Deus, unindo-se com Ele por palavras e obras.
Avance muito simplesmente com a Cruz de Nosso e tenha paz consigo mesmo. Passará por cada tempestade com seguridade, enquanto a sua confiança se fixar em Deus.
Não perca a sua paz interior por nada, nem se todo o seu mundo parece vir abaixo. Se se dá conta que se afastou da proteção de Deus, conduza o seu coração de volta para Ele tranqüila e simplesmente.
Faça todas as coisas em nome de Deus e fará tudo bem. Se comer ou beber, trabalhar ou descansar, ganhará muito aos olhos de Deus, ao fazer todas essas coisas como Deus quer que se faça.
Aconteça o que acontecer, não desanime; segure-se firmemente em Deus, mantenha-se em paz, com confiança no seu amor eterno por você. conindispensable para a progressiva identificação com Jesus Cristo; e a prática da oração interior, como meio necessário para progredir tanto no conhecimento pessoal como na intimidade com o Senhor. Os autores acima citados recomendam os tempos fortes de meditação: o da manhã, dedicando a paixão de Cristo, e o da noite, ao próprio conhecimento, partindo dos novíssimos (morte, juízo, inferno e paraíso). Essa prática Calasanz a estabeleceu diariamente como fundamental em sua Ordem dês de a origem.
(extraído dos seus escritos) http://oblatosamlat.cybermeme.net/intpg2.html (11/09/2004)
PENSAMENTO ESPIRITUAL E PEDAGÓGICO
DE SÃO JOSÉ DE CALASANZ
A longa vida de São José de Calasanz ocupa praticamente a segunda metade do século XVI e toda a primeira parte do séc. XVII. Pessoa aberta a realidade que o circundava, sentiu os impactos das idéias e problemas que o rodeavam, e assumiu um compromisso pessoal de contribuir para o progresso das idéias e a solução dos problemas. Pode-se afirmar que, junto com outros contemporâneos, foi protagonista , ainda que pouco conhecido, da transição do renascimento ao modernismo.
A formação espiritual de Calasanz foi muito influenciada pelas correntes renovadoras do séc. XVI na Espanha, personificadas em alguns autores ascéticos e místicos como Gracía de Cisneros e João da Cruz, Bernadino de Laredo e Francisco de Osuna, Luís de Granada e Tereza de Jesus, Antônio Cordeses e André Capilla.
As pegadas de alguns desses autores refletem nos ensinamentos espirituais do Santo, anos mais tarde, quando propõe aos religiosos de sua Ordem um caminho espiritual baseado no próprio
Nas constituições que o Santo escreveu, para seus religiosos, em suas cartas e em outros documentos redigidos por ele depois da fundação das Escolas Pias, projeta e encarna a experiência interior na partilha diária da comunidade fraterna e na entrega cuidadosa ao ministério específico da educação. E como conseqüência disso, nos Escolápios, tanto a prática das virtudes evangélicas e o empenho ascético como o compromisso apostólico de toda vida cristã, ficam coloridos de maneira peculiar pelo carisma recebido que integra e unifica todos os aspectos de sua vocação.
Foi precisamente a partir da dedicação de Calasanz para educação dos filhos das classes populares em Roma, nos anos de transição do séc. XVI ao XVII, quando se reelaborou de modo explícito seu pensamento pedagógico, fruto de seu pessoal itinerário espiritual e social. Anteriormente alguns pensadores humanistas como Juan Luiz Vives (1492-1540), Erasmo de Roterdan (1466-1529) e o mesmo Lutero (1486-1546), haviam teorizada sobre a educação de crianças e jovens. Incluindo alguns fundadores religiosos anteriores, como Jerônimo Emiliani (1486-1537), Antonio M. Zaccaria (1502-1539) e Inácio de Loyola (1491-
1556), haviam iniciado obras assistenciais e educativas muito respeitadas, no entanto, o pensamento e a ação de Calasanz significaram uma ruptura a respeito da cultura pedagógica anterior por um interesse prático demonstrada a favor da educação das classes mais populares desde os primeiros anos e pela orientação científica dada a educação, além da tradicional humanista.
Nos diversos escritos fundacionais, Calasanz faz um planejamento teórico claro do que pretende com a obra iniciada: contribuir para a reforma da sociedade e a felicidade temporal e eterna das pessoas, educando as crianças na fé cristã e nas letras humanas, por meio de Escolas Pias, que quer dizer populares e cristãs. Essa filosofia foi levada à prática por Calasanz durante cinqüenta anos até sua morte e organizou mais de trinta colégios em diversos estados europeus, formados de educadores preparados, estruturas adequadas e regulamentos escritos por ele mesmo. Para Calasanz, a figura do educador é o elemento fundamental na realização dos objetivos pedagógicos e sociais de sua obra. Em sua pessoa converge uma vocação religiosa e uma vocação educativa que se integram em uma identidade própria.
Assim é que o pensamento espiritual e pedagógico de Calasanz se expressou de maneira singular quando escreveu, com matizes diversos todas as vezes, sobre a figura ideal o perfil desse educador que pode-se chamar Escolápio, foi um homem entregue a educação evangelizadora das crianças, formado cultural e metodologicamente de maneira contínua, vivendo em comunidade seus compromissos de religioso e praticando as virtudes características de seu carisma: confiança em Deus, amor a Jesus Cristo, devoção a Maria, pobreza e humildade, caridade e paciência, entrega e abnegação, esperança e alegria...
O pensamento espiritual e pedagógico de São José de Calasanz, e sua prática proposta a seus primeiros companheiros em Roma no início do séc. XVII, deu origem na Igreja a uma espiritualidade pedagógica e a uma pedagogia espiritual de traços característicos que são uma das primeiras manifestações da espiritualidade e da pedagogia moderna.
Esquematicamente assim se poderia descrever uma síntese do pensamento espiritual e pedagógico de São José de Calasanz:
• Todo caminho espiritual se inicia pelo conhecimento de si mesmo e continua com o processo de identificação com Cristo, obra do Espírito, mediante a criação e a entrega pessoal.
• A vida escolápia é uma forma total e direta de seguir evangelicamente o Senhor de corpo e alma.
• Essa forma de vida íntegra a consagração por meio dos votos, a vida fraterna em comum e a dedicação ao ministério específico.
• É um projeto de vida que implica acrescentar progressivamente a docilidade ao Espírito, a confiança em Maria, mãe e educadora, e o sentido eclesial.
• Requer além de um constante cultivo das virtudes evangélicas e pedagógicas características do carisma Escolápio.
• É na vida espiritual que o fundamental é deixar Deus trabalhar, porém também se deve colaborar com o próprio empenho.
• A identidade do educador calasansiano é ser Cooperador da Verdade, ou seja viver e servir simultaneamente a Cristo na missão.
• Do ministério escolápio depende a felicidade futura de cada educando e a reforma da sociedade.
• A educação dada deve ser completa, integrando as letras e ciências com a doutrina e a piedade cristã, sendo estas últimas-prioritárias.
• O ministério educativo deve atender principalmente aos pobres e as crianças desde os primeiros anos.
• A educação deve preparar para a vida, incluindo humanidades porém também ciências ou matemática e habilidades práticas (caligrafia, música...)
• O método didático deve ser breve e eficaz para que as crianças aprendam em pouco tempo.
• As escolas devem ser gratuita e tem de constar, ao menos de quatro graus na educação elementar e de outros quatro para as humanidade e ciências. Cada aluno para individualmente ao grau superior quando estiver preparado para ele.
• Todas as Escolas Pias tem um plano educativo comum. Porém cada uma delas terá estruturas educativas adequadas, segundo as circunstâncias, e um regulamento próprio que determinará as funções diversas e as obrigações dos alunos, mestres, diretores, pais de família, autoridades civis.
Em 1806 os padres reduziram a maior sala do palácio Da’Mosto, em um oratório dedicada à São José de Calasanz, que servia para todos os exercícios de piedade dos alunos.
Nesse oratório, dês de os primeiros anos, participavam na celebração da santa missa e no verão após as aulas, a tarde, cada dia tinha uma breve instrução religiosa. O diretor da escola devia se fazer presente em tudo, observando a conduta das crianças, porque à essas práticas os padres atribuíam um valor capital na educação da juventude. (ZANON, 1946 p. 73)
4.5.1 Exercícios Espirituais
A regra número 3 das constituições Cavanis na norma C, diz: "Será portanto dever dos congregados: Ministrar Exercícios Espirituais a jovens e adultos, para favorecer a continuidade da formação, a revisão de vida e a conversão a Deus." (Const. 3c.)
No diário da Congregação Mariana, encontra-se datado o primeiro retiro em 20 de outubro de 1805.
Padre Marcos em comunicação no início do ano de 1825 diz: "O Instituto das Escolas de Caridade, criado a 23 anos em Veneza, tem a dupla finalidade de educar na piedade e nas letras, gratuitamente, os jovens e de oferecer os espirituais exercícios a varias classes de pessoas que se juntarem de vem no local do Instituto" (apud. Espírito e Finalidade, 1969, p. 190)
Em súplica ao Papa Gregório XVI para obter aprovação do Instituto no que diz respeito ás escolas médias, Padre marcos escreve: "... Os Sacerdotes e clérigos desta comunidade vivem no estilo dos padres da Congregação do Oratório, fundada por São Felipe Néri, por aquilo que diz respeito ao viver juntos. Considerando-se comprometidos em dar os exercícios espirituais, quando lhes for possível, a quantos na sua casa podem por isso ser recebidos". Ibid., p. 192
Os padres viam no retiro um meio eficaz para se refletir e corrigir a vida e através da espiritualidade uma forma de promover a socialização de maneira humana e respeitosa entre os alunos.
PILARES PEDAGÓGICOS
Seu pai continuamente enviava-lhe cartas ora ordenando, ora implorando pela sua volta. E o filho respondia que sem a aceitação do bispo ele não tinha direito de largar seu posto. Francisco em meio a tantas dificuldades escreveu: "Nós estamos apenas começando. Vou prosseguir com toda coragem, e espero em Deus contra toda esperança humana". id
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Desde então, essa criança começou um processo de sério afervoramento espiritual. Segundo o parecer de outro Santo, São Roberto Belarmino, Doutor da Igreja e futuro confessor do primogênito do Marquês de Castiglione. Para São Roberto Belarmino: "na idade de sete anos é que Luís começou a conhecer mais a Deus, desprezar o mundo e empreender uma vida de perfeição. Ele mesmo com freqüência me repetia que o sétimo ano de sua idade marcava a data da sua conversão". id
Camilo teve cinco misericórdias, assim chamava as cinco fontes de padecimentos de sua vida heróica. A primeira misericórdia, era a chaga do pé que no espaço de quarenta anos lhe roia as carnes como se fosse um cancro, feria os músculos e tendões e tocava os ossos. Não produzia febre e nunca fechava. A segunda misericórdia era uma hérnia inguinal que o fez sofrer durante trinta e oito anos, e segundo o uso do tempo obrigaram-lhe os médicos a trazer uma cinta de ferro incômoda. A terceira eram dois calos na planta dos pés, doloridos e enormes Camilo tinha a impressão de pisar sobre espinho. A quarta misericórdia eram as freqüentes cólicas renais que sofreu durante dez anos e em 1606 o levaram às portas da morte. A quinta misericórdia era uma falta de apetite permanente que o fez perder o gosto por todo alimento nos últimos meses de vida. E o homem que segundo o testemunho dos médicos deveria ter passado longos anos de cama e sob tratamento, foi um prodígio de atividade e modelo dos enfermeiros. (BRANDÃO 1978, p.86)
O santo deixou a direção canônica da Ordem em 1607. Mas tomou parte no capítulo geral de Roma, em 1613. Depois do capítulo geral, com o novo superior geral, visitava as casas, dando a todos as últimas exortações.
Em Gênova, ficou doente beirando o fim; recuperou-se a ponto de poder concluir as visitas aos hospitais, porém logo recaiu, sendo desenganado.
Recebeu os últimos sacramentos das mãos do Cardeal Ginnasi, e ao receber a extrema-unção fez uma exortação comovente aos irmãos.
Expirou em 14 de julho de 1614, aos sessenta e quatro anos de idade.
Foi canonizado em 1746, sendo juntamente com São João de Deus declarado padroeiro dos doentes pelo Papa Leão XIII, e das associações de enfermeiros e dos encarregados da enfermagem pelo Papa Pio XI. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p.174 v. VII)
Mais tarde em 1595 e 1601, alguns de seus religiosos foram enviados junto às tropas que estavam lutando na Hungria e na Croácia, formando assim a primeira assistência ambulatorial junto às tropas militares de que se tem registro. A cruz vermelha só veio a ser criada por Henry Dunant em 1859, após ele ter assistido a sangrenta Batalha de Solferino, que foi travada no norte da Itália, entre o exército imperial austríaco e as forças aliadas da França e da Sardenha e da qual resultaram 40 mil vítimas mortais. Henry Dunant rapidamente reuniu mulheres das aldeias mais próximas para que prestassem auxílio humanitário às vítimas da guerra. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p.173)
O trabalho de caridade dos ministros dos enfermos destaca-se não apenas na assistência imediata aos enfermos, mas também no respeito e paciência junto aos doentes. Certa vez estava o fundador servindo um doente no hospital do Espírito Santo quando o Monsenhor e Comendador chefe da obra mandou chamá-lo, Camilo assim respondeu ao enviado: Diga ao Monsenhor, que estou ocupado com Jesus Cristo, e quando terminar esta obra de caridade estarei às ordens de sua excelência.
Quanto a paciência essa era uma grande virtude de Camilo quando a ingratidão era o seu cálice do dia dia. Para animar seus filhos espirituais na paciência para com os enfermos ele lhes dizia: Coragem vençam todas as ingratidões e maus tratos dos enfermos! Eu mesmo já recebi socos, bofetadas e insultos de toda espécie. E me foram motivo de grande alegria... Os enfermos não só podem me dar ordens, como também me insultar. São meus verdadeiros e legítimos patrões. Outrora dizia: Servir ao doente é servir a Jesus Cristo e não merecemos tanta honra. op. cit., p.74-75
As regras para servir aos doentes de São Camilo constituem um verdadeiro manual de administração hospitalar. Ali se encontram normas e rotinas, ditadas pela sua intuição, que são recomendadas pela administração científica de hoje. A regra orienta que para ajudarem os que sofrem e, sobretudo os agonizantes é necessário uma boa instrução e conhecimento das coisas espirituais. Desde a infância Camilo
Sábado, 26 de maio de 1584, na oitava de pentecostes, Camilo foi ordenado sacerdote. Após esta graça quis entrar em retiro, no silêncio e na oração, a fim de se preparar melhor para subir ao altar. Passou duas semanas recolhido, orando e fazendo penitência recebeu apenas a visita de São Felipe Néri, seu diretor espiritual. No domingo, 10 de junho do mesmo ano, terceiro domingo de pentecostes, celebrou a primeira missa na capela de
Seu benfeitor Fermo Calvi ofereceu-lhe um cálice, um missal, três casulas e outros paramentos.
Padre Camilo ainda freqüentava as aulas e estas ocuparam cinco horas por dia, continuava na direção do hospital e fora nomeado capelão de uma Igrejinha de nossa senhora,
A atividade do novo sacerdote era intensa, pois estudos, direção do hospital e a capelinha lhe absorviam o dia todo e parte das noites.
A Companhia dos enfermeiros foi iniciada em 15 de setembro de 1584, no referido santuário da Virgem, sendo três os primeiros camilianos: Cruzio Lodi, Bernadino Norcino e o Padre Francisco Profeta a quem Camilo deu o hábito clerical. Estabeleceram um regulamento a ser observado, e foram trabalhar no hospital do Espírito Santo onde assistiam os doentes com tanto afeto e cuidado que se tornava visível a todos quantos os observavam que eles consideravam como se fosse o próprio Cristo aquele que estava ali deitado, doente ou ferido, em seus membros. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p.173). Os três companheiros desligaram-se dos compromissos de
A primeira grande tribulação foi quando São Felipe Néri deixa de ser diretor espiritual de Camilo a única segurança que Camilo encontra é no seu crucifixo que sentia lhe dizer "caminha avante, pois a obra é minha" (BRANDÃO 1978, p.44)
A segunda grande prova veio de uma enfermidade que abateu Camilo e Cruzio, devido a umidade vinda do Tibre, e a vida pobre e sem conforto em
Camilo retornou os estudos, aos trinta e dois anos, com dois sacerdotes, e andava com a gramática latina por toda parte, no mesmo ano de 1582 passou a freqüentar aulas no Colégio Romano onde se encontravam célebres teólogos e sábios da Companhia de Jesus como São Roberto Belarmino, Vasquez e Suarez, filósofo da contra reforma.
O programa dos estudos constava de gramática, retórica e humanidades. O curso filosófico de três anos e o teológico de quatro anos. Nesse ano da matrícula ele entrou no curso inferior onde estavam os que apenas sabiam ler e escrever e aprendiam rudimentos de latim. Era uma turma com meninos de 12 e 13 anos de idade. A criançada o ridicularizava e repetia:
Os padres Jesuítas empenharam-se para vê-lo adiantado na instituição. No ano de 1583 julgaram suficientemente instruído para receber as ordens menores. (BRANDÃO, 1978, p.38)
No dia 2 de fevereiro de 1583, Ele se reveste do hábito clerical e recebe a Tonsura. Nos três domingos seguintes recebeu as ordens menores das mãos do vice-regente de Roma, Tomás Goldwell, bispo de
Para receber as ordens maiores, diaconato e presbiterado encontrou nova dificuldade onde o candidato que não fosse religioso professo deveria ter um patrimônio ou título equivalente que assegurasse a honesta sustentação. Camilo era pobre e os honorários que recebia como mordomo de
"De Lellis". A pobre mãe não cabia em si de tão feliz, porém, sentia-se ruborizada com aquele parto em idade tão avançada. Mas essa piedosa mãe não viveu muitos anos mais. Em 1563, com quase 73 anos de idade, expirou santamente. O pai, agora comandante da fortaleza de Pescara, poucas vezes vinha a Bucchianico, e o filho fora entregue aos cuidados de estranhos. (BRANDÃO 1978, p.13-15) 10
Felipe compôs algumas regras simples de vida. Eles participavam de uma mesa comum e de exercícios espirituais sob sua obediência, mas, proibiu-lhes que se vinculassem a esse estado, pelos votos, os seus bens materiais, caso possuíssem algum.
Outros vieram juntar-se a eles e sua organização e obra se desenvolveram rapidamente, justamente pelo fato de encontrarem oposição e até mesmo perseguição por parte de setores da Igreja. Contudo em 1575, a nova sociedade obteve aprovação formal do Papa Gregório XIII, que lhe doou a Igreja de Sant Maria em Vallicella. As regras de sua Constituição foram aprovadas pelo Papa Paulo V em 1612. A Congregação do Oratório se espalhou por toda a Europa e América do Sul. O Papa Gregório XIV tentou fazer dele um cardeal, mas Filipe recusou.
Felipe era um homem de saúde delicada e tinha a capacidade de predizer acontecimentos, vivia em contato com o sobrenatural e ao recitar o Ofício e celebrar a Missa por diversas vezes caía em êxtase. Pessoas que conviveram com ele testemunharam que, Felipe irradiava uma luz celeste. Depois dos 75 anos de idade limitou sua atividade ao confessionário e a direção espiritual. SGARBOSSA, M.; GIOVANNINI, L., (1983, p.165)
Em 1577 a Congregação do Oratório mudou-se para a Igreja de Sant Maria em Vallicella, somente em 1584 é que Néri passou a morar em Vallicella atendendo pedido expresso do Papa. O povo romano tinha por ele veneração, e nos últimos anos de sua vida, todo o colégio cardinalício recorria a ele, buscando conselhos e revigoramento espiritual e tão grande era a sua fama que os estrangeiros vindos para Roma desejavam ser apresentados a ele. id.
Respeitado e amado em Roma foi um conselheiro de Papas, Reis, Bispos, Cardeais e igualmente confessor e conselheiro de leigos e do povo mais simples de Roma .
Ele popularizou a devoção das 40 horas em Roma, devoção essa que ainda hoje é muito comum, consiste em dois dias de adoração ao Santíssimo Sacramento que pode ser feita em preparação ou após a festa de Corpus Christi. Essa obra desenvolveu-se até o ponto de tornar-se o hospital de
Néri tinha o hábito de ler em voz alta a vida dos mártires e missionários. Meditando sobre o relato da vida e morte de São Francisco Xavier, impressionou-se de tal maneira a ponto de oferecer-se como voluntário para trabalhar nas missões no estrangeiro. Mas, um cisterciense que ele consultou garantiu-lhe que Roma era a sua Índia, e Felipe acatou a orientação. Para ajudar os mais necessitados não hesitava em pedir esmolas nas estradas. Um dia um indivíduo sentindo-se importunado, deu-lhe um soco. Ao que Felipe respondeu: "Este é para mim? Agora me dê algum dinheiro para meus meninos". op. cit.
Felipe tinha uma saudação costumeira: "Bem, irmãos quando é que começareis praticar o bem?"(loc. cit.) Assim ele conseguia levar muitos a cuidar dos doentes nos hospitais e a visitar as Igrejas.
O que sustentava essa vida em favor dos menos favorecidos e em defesa da Igreja era a sua constante vida de oração. Retirava-se para a oração: "Se quisermos nos dedicar inteiramente ao nosso próximo, não devemos reservar a nós mesmos nem tempo nem espaço" SGARBOSSA, M.; GIOVANNINI, L., (1983, p.165). Assim passava a noite ora no pórtico de alguma igreja, ora, nas catacumbas de São Sebastião, junto a via Ápia.
Em suas orações noturnas, em certa ocasião véspera de Pentecostes, em 1544, pedindo fervorosamente os dons do Espírito Santo, experimentou um êxtase que dilatou seu coração apareceu-lhe um como globo de fogo que entrou pela boca dilatou-lhe o peito. Imediatamente foi tomado de um paradoxismo de amor divino, que rolou pelo chão, exclamando "basta, basta, Senhor, eu não posso mais suportar!" op. cit, p.239
Ao levantar-se sentiu-se mais recomposto, e assim quando pôs a mão sobre o coração, percebeu um inchaço do tamanho do punho de um homem, o qual nem no momento ou posteriormente lhe causou sofrimento. Mas, desde aquele momento a qualquer emoção espiritual era facilmente surpreendido por violentas pulsações que faziam todo o seu corpo tremer e algumas vezes sacudiam violentamente a cadeira ou a cama onde se encontrava. Sentia também em suas consolações espirituais calor no peito que o levava a desnudá-lo com o intuito de abrandar-lhe o calor, assim, em suas orações pedia a Deus que amenizasse essas sensações, caso contrário morreria de amor.
Após sua morte descobriu-se que duas das costelas do santo, se haviam partido e formavam um arco que aumentava o espaço normal para as batidas do coração.
PRINCÍPIOS ILUMINADORES
PONTA GROSSA
2004
Ir. MÁRCIO CAMPOS DA SILVA, CSCh.
A PEDAGOGIA CAVANIS
E A FORMAÇÃO INTEGRAL DO HOMEM
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Cristina Cavanis